18 de dez. de 2009

Oráculo


Seus olhos, meu amor dizem tudo o que eu preciso saber: você me ama e eu amo você.

Sabrina Davanzo

Destino: Polo Norte



Querido Papai Noel,

Hoje estou escrevendo para dizer que não ficaremos tristes se, neste ano, o senhor não quiser aparecer. Eu sinto muito pela sua casa... Nós realmente não fomos bonzinhos nestes últimos tempos e o resultado é que acabamos fazendo mal até para o senhor. Eu já pedi para minha mãe guardar todo o gelo do congelador da geladeira aqui de casa para lhe enviar de presente. Não é porque o senhor é o Papai Noel que deve ganhar presentes, não é verdade? Falei com a mamãe que gostaria muito de ajudar aqueles ursinhos brancos que vivem aí com o senhor também, talvez trazer alguns para morar aqui em casa... mas acho que não teríamos espaço e gelo suficientes para eles. Vou ver com o Seu Angelo, o dono da vendinha aqui da minha rua. Ele tem um freezer bem grande, talvez possa ajudar.
Agora vou me despedir, Papai Noel. Nem vou pedir nada esse ano não, mas se ainda assim o senhor achar que merecemos alguma coisa, traga um pouco de consciência para todos nós, por favor.

Um beijo, Papai Noel. Até no ano que vem.

Sabrina Davanzo


15 de dez. de 2009

Sentença


Tanto me cobrei e hoje acabo descobrindo que não sei lidar com dívidas. Sem levá-las a sério, fico devendo a mim mesma, às minhas expectativas. Não tenho nem coragem de encarar as pessoas nas ruas. Suas expressões, se não refletem seu próprio interior, me acusam de desonesta.
É imperdoável o crime de trair-me. Por isso, não sem autopiedade, espero minha sentença. Já não tento mudar. Já não sei me encarar. Escondo-me tal qual o criminoso que envergonha-se e teme represálias.
Prometo enviar-lhe notícias do meu cárcere.

Sabrina Davanzo

De La Mancha


Ando meia quixotesca. Trago dentro de mim muitos sonhos para fugir da dura realidade.

Sabrina Davanzo

9 de dez. de 2009

Fique ao meu lado

Leia ouvindo: Minueto - Bach

Minha vontade é esperar pela primavera onde o calor do sol aquece sem castigar; Onde o canto dos pássaros é sinfonia em homenagem a vida e a tarde é poema escrito lentamente no céu. Talvez eu resista às tempestades deste verão escandaloso e alterado só para presenciar a aquarela da primavera. Meu corpo castigado pela intensidade do calor espera a paz da mais doce das estações.
Ah! Como desejo a primavera e seus cheiros... como desejo enxergar a vida desabrochando bela e perfeita diante dos meus olhos. Já posso me imaginar correndo pelas ruas proclamando: "Chegou a primavera! Libertem suas almas!". Mas, antes, espera ao meu lado, meu amigo, por esta bonança. Não se apresse em ir embora quando chega o verão... Fique por perto enquanto esses outros tempos precisam passar. Espera comigo, meu companheiro, o florescer. Porque uma hora ele há de chegar.


Sabrina Davanzo

Surpresa...

A vida é sacolinha surpresa. Para alguns felicidade é chiclete - saborea-se por um longo tempo e só se desfaz dele quando quiser. Outros vivem de emoções passageiras - balinhas sortidas, de cores, tamanhos e gosto diferentes- e, nem por isso, menos alegres e intensas. O que não falta é um brinquedo, ainda que singelo, para todos. Para viver é preciso passar no balcão, pegar sua sacolinha e cruzar os dedos para encontrar um monte de coisas boas.

Sabrina Davanzo

7 de dez. de 2009

É assim que ela é


Tem força no corpo e amor no coração
vai indo sem nem sonhar
que é pra não dar pernas aos delírios.
Por onde encontra alguém diz:
- Pois saiba que admiro muito você!
Aprendeu que as pessoas precisam ser louvadas.
Da infância
guarda só lembranças de um tempo
que fotografia era luxo.
Não sabe aonde vai chegar
mas está decidida que no meio do caminho
não vai ficar.

Sabrina Davanzo

É só olhar pra cima...


Se pelo caminho você só enxerga espinhos e trás as mãos cheias de marcas, experimente não se agarrar a eles, caminha sem se reter à aspereza. Um dia você irá descobrir que acima dos espinhos que lhe ferem, existe a maciez da flor.

Sabrina Davanzo

Também sou pequena demais...


Já faz dias que o sol não aparece, cai uma chuva fina e insistente. Começo a pensar se não é reflexo da dor de quem vive abaixo do céu. Eu conheço algumas pessoas que parecem tempestade, frente fria, sol entre nuvens.
Quisera eu ser raio de sol que transcende todos eles... que nada! Também não passo de uma gotinha dessa chuva que cai sem parar.

Sabrina Davanzo

Disfarce


Tal qual uma dona de casa fatigada, varria todos os seus medos para debaixo do tapete. Disfarçava-os com os belos arabescos bordados no tecido. A sujeira continuava ali, mas oculta por uma certa beleza. Assim ela se apresentava sempre com uma casa agradável aos olhos dos visitantes menos atenciosos. Quando era o caso de alguém botar reparo, tratava de disfarçar comentando sobre as violetas na janela e os benefícios da luz em suas pétalas. Nada como falar de suavidade quando se tem diante dos olhos algo tão denso como o medo.

Sabrina Davanzo

3 de dez. de 2009

Sobre os que estão no seu caminho...


Ama teus amigos. Respeita aqueles que não lhe são tão caros e ainda mais os que lhe causam verdadeira aversão. Todos fazem parte de sua eterna caminhada na busca de conhecer a ti mesmo. A forma que você lida com o outro diz muito sobre você.

Sabrina Davanzo

Dezembro


Dezembro é fim de calendário. Última folhinha solitária e resistente. É um mês estranho, que dá saudade do que passou, medo, ansiedade do que está por vir. Ainda que as perspectivas sejam boas, aparece um friozinho na barriga que indica: mais um ano inteirinho vem aí. Dezembro é um pouco nostálgico. Ele é como um filminho sendo retrocedido na memória da gente. O que se perdeu, aproveitou, viveu... Dezembro é uma pausa no meio de 11 meses. É reflexão para desfazer, corrigir, recomeçar, repensar e, há quem diga, é tornar-se mais solidário. São 31 dias que temos para fazer uma autoanálise e recobrar as forças... Janeiro está logo ali... "o tempo não para".
Sabrina Davanzo


30 de nov. de 2009

Cronômetro

Zerei o relógio. É hora de começar tudo de novo. Antes mesmo do novo ano. Respira fundo, conta até três e... solta os ponteiros. É o início de uma outra história dessas tantas que cabe dentro do livro da vida da gente.

Sabrina Davanzo

18 de nov. de 2009

Sobre física


A distância entre dois corações que viveram uma linda história chama-se saudade.


Sabrina Davanzo

16 de nov. de 2009

(Des)encontro



E ele não veio... Eu que esperava tanto. Eu que contava os dias, sonhando com seu sorriso inocente adentrando a porta, e inundando minha vida de felicidade. Eu que planejei brincadeiras e carinho. Preparei um quarto decorado com motivos alegres... uma cama macia. Tinha para oferecer os abraços mais ternos, o colo mais doce. Ele não veio. Será que não gosta de mim? Não existe a possibilidade de estar atrasado. Já confirmei no guichê da estação: no meio do caminho, desistiu. Não veio. Nenhum sinal... Teve medo? Ainda te espero. Venha quando quiser, quando achar que é hora. Eu estarei aqui para recebe-lo e lhe doar todo o amor que existe nesse mundo.

Sabrina Davanzo

10 de nov. de 2009

Reflexão


E se eu me pareço perdida... é por não saber o que fazer com tanta vida... pensar que o sangue corre em minhas veias enquanto escrevo estas linha é assustador. O fato de órgãos pulsarem dentro de mim, contra a minha vontade, é de tirar o fôlego. Eu não tenho o controle. Sou pequena diante de minha existência. Devo respeito a quem me criou com tanta perfeição? Estranho... não pedi para ser criada... ou pedi? Se antes de nascer fiz um trato com Deus, peço desculpas. Também não controlo minhas lembranças. Não me informaram, mas sinto que sou feita de paixão e medo. E que coisa.. ele me deu olhos para apreciar tudo o que é moldado diariamente por suas mãos delicadas.

Agradecer é parte dos compromissos que ele me impôs. Às vezes ele é bem rígido. Quando me obriga a perdoar, por exemplo. Felizmente, também consegue ser doce ao me enviar borboletas todas as manhãs.
Por todos os ritmos compassados do coração que bate em meu peito, eu lhe agradeço. Ainda que eu não compreenda...

Sabrina Davanzo

Espaço


Tudo o que eu mais quero e amo no mundo cabe aqui dentro do meu coração.


Sabrina Davanzo

Notícias do mundo de lá...


E por aqui, continua tudo do mesmo jeito: Dona Girafa insiste em não aderir às refeições de fast food e vai, ela mesma, todos os dias, colher frutinhas nas copas das árvores.
Joaninha continua delicada e tímida. Seu Leão ainda não perdeu a magestade. Aquele outro, continua cantando de galo, às seis da matina, no terreiro.
João de Barro continua sendo destaque nos magazines de arquitetura.
Engraçado que, apesar do que acontece ao redor, certas coisas continuam sempre como deveriam ser.
Eu, por exemplo, não deixo de plantar flores, ainda que a própria terra seca diga que desistiu de dar vida a algo tão belo.

Sabrina Davanzo


3 de nov. de 2009

Oportunidade


E pensava que a cada novo dia teria a chance de se redimir, ser feliz, demonstrar o seu amor. Por isso, deixava para depois. Engano seu. Sempre existe um dia em que não é possível fazer nem uma coisa, nem outra. É quando se descobre o valor de cada segundo...

Sabrina Davanzo

27 de out. de 2009

Cena de filme


E uma grande tragédia, dessas de filme, entrou dentro da minha casa. Ficou lá por quase três dias, sem deixar ninguém dormir. Quando subiram os créditos, o medo não passou. O fato de saber que o cara malvado ficou preso no final não confortou. A platéia toda está com a sensação de que a história continua e, pior, vai ser ainda mais triste. Difícil imaginar a vida da mocinha de agora em diante. Perca o fôlego: vez em quando, no filme da vida, um personagem monstro assuma o papel de protagonista e espalha o terror.

Sabrina Davanzo

Ps: Na semana passada, minha prima de 18 anos foi sequestrada, mantida em cárcere privado por dois dias, violentada física e psicologicamente. Não existem palavras para descrever a agonia de esperar por notícias, muito menos o medo de imaginar o que estaria acontecendo a ela onde quer que estivesse. Peço a todos que façam preces, enviem pensamentos positivos a ela e a mãe, sem esquecer de outras famílias e das centenas de pessoas que saem de casa sem saber que, naquele dia, não será permitido voltar.

24 de out. de 2009

Está na hora

Nenhuma outra hora é o momento exato de ser feliz senão agora.

Sabrina Davanzo

15 de out. de 2009

Lançamento em Varginha


Queridos e queridas,
Amanhã, 16/10, será o lançamento do livro Inverso Meu - Pequenas histórias para gente grande em Varginha.
O evento acontece na Fundação Cultural - Praça Mateus Tavares, 121 Centro (antiga Estação Ferroviária) a partir das 19 horas.

Ficarei muito feliz se passarem por lá!

Beijos,

Sabrina

13 de out. de 2009

Medo:


Mocinho invisível e gelado que obriga a prender a respiração, fechar os olhos e cobrir a cabeça com lençol. Tudo ao mesmo tempo e bem rápido.

Sabrina Davanzo

Futuro:


Pedacinho de vida lá na frente que deixa o coração acelerado desde agora.

Sabrina Davanzo

(re) Começo


Estou pronta.
Põe para tocar a música que escolheu para ser tema do nosso amor e comece a escrever nossa história.

Sabrina Davanzo

Endereço


Meu coração arrumou uma casinha simples para eu morar. Com poucos móveis, quando canto, minha voz até ecoa pela salinha. O espaço é tão pequeno que não tem jardim. Não há uma janelazinha para apoiar os cotovelos e dizer bom dia a quem passa.
Fico o dia todo a esfregar uma mão na outra, esperando que alguém bata à porta. Mas parece que não há vizinhos também. Pelo menos eu não os ouço.
Acho que meu coração se enganou... Preciso me mudar logo desse lugar. Não é nada agradável viver em uma rua que se chama Solidão.

Sabrina Davanzo

9 de out. de 2009

Não pode esperar


E desde pequena aprendeu que felicidade é coisa muito importante para se adiar. Não desperdiça um só minuto da sua. É feliz a todo custo, a cada dia. Onde já se viu congelar felicidade para experimentá-la mais tarde? Quem deixa para depois sente que o gosto é amargo. Sabor de passado que poderia ter sido e não foi. Sorriso com data de validade vencida.

Sabrina Davanzo

8 de out. de 2009

Confiança


Guarda para sempre este segredo: o calor da minha mão pode ser a coragem que lhe falta para atravessar as sombras. Basta que você a segure bem forte.

Sabrina Davanzo

7 de out. de 2009

Estrelado



Se hoje, quando a noite chegar, não aparecer nenhuma estrela no teu céu, prometo lhe emprestar algumas. Tenho muitas, que eu mesma fiz.

Sabrina Davanzo


6 de out. de 2009

Sem saída


Quando chegou ao final da rua, constatou que esta acabava em um precipício. Terminava sem dar a mão a outro caminho.
Sentiu um frio na barriga... Se até uma rua que foi feita para se emendar a outra, sem nuncar acabar, parou por ali, imagine as pessoas que a percorriam... Poderiam achar que era o fim para elas também. Não quis arriscar olhar lá embaixo. Teve medo de encontrar olhares perdidos. Virou-se e começou a percorrer o caminho de volta.
Ela compreendia que nem sempre o fim da linha, significava o seu fim. Passar novamente pelo mesmo lugar era uma forma de prestar atenção no que estava ao redor e talvez descobrir o que a fez buscar algo que não levava a lugar algum.

Sabrina Davanzo

1 de out. de 2009

Consistência



Meu mundo é diamante bruto, ainda sem lapidar. Meus sonhos são pérolas não formadas, ostras em plena árdua função. Meus delírios são pontinhas de orelhas de um coelho prestes a sair da cartola. Minha fala é estrela cadente em seu último instante de brilho. Meus gestos, Deus me livre, não são friamente calculados. Ao contrário, são apitos de chaleiras fervendo água em ebulição. Minha alma é eterea como as explosões cósmicas. Nunca percebo o momento em que elas acontecem, mas sei que existem e isso é o que torna estranhamente diferente cada bendito dia da minha vida.

Sabrina Davanzo



30 de set. de 2009

Cantoria


Cigarrinha canta canta

no meu quintal
Trouxe até amigas
para formar coral.

Eu, sem tempo,
não posso apreciar
mas bem sei...
não é meu esse cantar.

Cigarrinha e seu coral
Cantam triste e forte
só pra esperar a morte.

Sabrina Davanzo

Pronto, sarou!


Quando era pequena, qualquer machucadinho a mãe soprava e dizia: "pronto, passou". Era mágico. Passava mesmo.

Hoje, ela costuma fazer isso quando sofre arranhões. Não tem funcionado. Ou porque a mágica só serve para crianças, ou porque só vale sopro de mãe.
Na dúvida, ela continua com esse ritual. Quando vem chegando a dor ela respira fundo, sopra bem forte e diz em bom tom: "pronto, passou".

Sabrina Davanzo

29 de set. de 2009

Telenotícias


Ando sem inspiração. De vez em quando, o mundo vem, tira esse véuzinho mágico por onde vejo a vida, e me faz encarar a realidade. Quando isso acontece fico sem saber o que falar.
Devo falar dos ventos que carregam as cidades? Ou será que publico uma nota sobre o que nosso presidente anda aprontando por aí? Talvez eu deva fazer uma longa reflexão sobre pessoas que perdem a cabeça, e por causa disso levam uma bala no meio dela, no meio da rua.
A sanidade me visita. Já assisti ao telejornal. Mundo, você me assusta... agora, vou voltar para o meu universo e meus personagens. Boa noite.

Sabrina Davanzo


Era uma vez...


Tem um monte de histórias começadas sem saber o que fazer com elas. Porque todo começo parece muito bom. Depois é que não se sabe como é que vai ser. E o fim sempre dá medo.
Desde cedo aprendeu que histórias devem ter início, meio e final, nem sempre feliz. Mas o que não ensinaram foi que entre uma coisa e outra sempre há um monte de aventura e gente. E que por causa desses momentos e pessoas é difícil ir virando a página. Principalmente quando é divertido.
A história pode ser curtinha, uma linha ou ter quinhentas e oitenta e oito páginas, não importa. Uma vez escrita, fica para sempre. Histórias são eternas. Mesmo as incompletas, como as que ela sempre começa e nunca termina.

Sabrina Davanzo

28 de set. de 2009

Fases


Quando é lua minguante São Jorge fica espremidinho lá dentro... o cavalo sai para passear com as estrelas. O dragão foge para outra galáxia. Percebe que lá não há espaço para ser assustador.

Sabrina Davanzo

21 de set. de 2009

A máquina de algodão doce




Ainda bem que o parque fica próximo à sua casa. Basta cruzar algumas quadras e pronto: adentra os portões que acolhem a engenhoca.

Todos os domingos vai até lá, senta-se confortavelmente no banco de madeira pintado de verde e se põe a observar o trabalho cuidadoso de seu Alaor. Ele é um velhinho encarapitado que manuseia com muito zelo a máquina de fazer nuvem.
Com alguns movimentos, faz uma delas surgir dentro da “bacia”. Ele já tem tanta experiência, que é capaz de fazer nuvem de várias cores. Rosa, azul, amarela.
O tempo todo chega gente que sai carregando nuvens no palito.
Ela nunca quis experimentar uma. Acha que não está preparada. Tem medo de machucá-la. Para tocar algo tão frágil, é preciso muita delicadeza. Já lhe contaram que tem sabor de felicidade e derrete na boca.
Seu Alaor se sente realizado fazendo nuvens coloridas no palito. Montinhos fofos que despertam sorrisos.
Uma coisa ela já reparou: combinam principalmente com casais de namorados e crianças.
Seu Alaor insiste em chamar por outro nome essa delícia. Todo domingo, antes de desligar sua máquina, dirige-se a ela no banco e pergunta:
- E hoje, Tininha? Não vai experimentar um algodão doce?
- Não não, Seu Alaor. Ainda não estou pronta para beliscar nuvenzinhas.

Sabrina Davanzo



19 de set. de 2009

Lançamento II

Meninos e meninas, quero agradecer o carinho e desejos de sucesso que tenho recebido nesses últimos dias. Essa energia boa que vocês têm mandando para cá, fez com que o lançamento do meu primeiro livro fosse um sucesso! :)
De verdade, foi super legal. Fiquei surpresa com o número de pessoas que compareceram para fazer parte deste momento comigo. Como o Gustavo disse no comentário do post anterior, eu realmente estava muito feliz. Nem tenho palavras para descrever o quanto é bom ver o meu trabalho sendo reconhecido, apreciado. E tudo isto, graças ao incentivo e companheirismo de vocês.

Quem quiser conferir as fotos é só entrar aqui: Lançamento

Obrigada, queridos!

E agora, voltemos com meus posts... rs já estava sentindo falta! Amanhã coloco um textinho por aqui.

Beijos!

Sabrina Davanzo


17 de set. de 2009

Lançamento


Pessoal, hoje é o lançamento do Inverso Meu - Pequenas histórias para gente grande.
Ainda não consigo acreditar que isso está acontecendo! :)

Para quem deseja adquirir um, mas não pode comparecer hoje lá no Oficina D'ideias, os livros estarão a venda na internet pelo site da editora: www.editoramultifoco.com.br
Obrigada pelo carinho de sempre, pelas mensagens lindas e por compartilharem comigo este momento.

Beijos,

Sabrina

PS: Semana que vem pretendo voltar com a "programação normal" por aqui. :)

15 de set. de 2009

Por onde começar?



E se um dia for preciso construir um céu, começarei pelas estrelas. Pequenos pontinhos iluminados que fazem toda a diferença na vida dos astrônomos, dos apaixonados e do céu escuro.

Sabrina Davanzo



11 de set. de 2009

Iuuuuupiiiii!!



Pessoal, finalmente, o grande dia está chegando! :) Vocês são meus convidados de honra para o lançamento do meu primeiro livro. Foi através do carinho, aceitação e reconhecimento de cada um aqui que comecei a acreditar que esse sonho poderia se tornar realidade. Obrigada por tudo. Quem estiver aqui por perto, por favor, apareça! Vai ser muito bom ganhar abraços de vocês.

Sabrina Davanzo


8 de set. de 2009

Sumidinha


Pessoal, ando meio sumida do blog por uma série de motivos dentre eles: correria com trabalho, preparativos para o lançamento do livro, super cansaço (não do blog, mas dessa correria toda.. rs).

Aos poucos, estou colacando as coisas no lugar e não demora volto a postar no mesmo ritmo. O blog não vai acabar não, viu?
Beijos para vocês que estão sempre por aqui ainda que eu ande em falta. Obrigada pelo carinho e apoio!

Sabrina Davanzo

Minha terra árida


Tenho sede, mas não dessas águas que movem moinhos, lavam pedras.
Tenho sede, mas, definitivamente, não é de águas devidamente engarrafadas com ares pomposos vindas da França. Muito menos dessas que descansam no fundo de moringas de barro, em alguma cozinha simples lá do sertão.
O que minha sede espera ainda não tem nome. Feito um peregrino, sigo pelo deserto de mim mesma procurando desesperadamente por um oásis. Pressinto que nele existe a fonte da vida e (quem sabe?) é nela que escorre o líquido que tanto anseio para me saciar.

Sabrina Davanzo

4 de set. de 2009

Quando chegar...


Por que é que a gente vive sempre a espera de? A espera de um milagre, de uma volta improvável, um salário no fim do mês, uma oportunidade. Triste constatar, mas há os que vivem a espera de um prato de comida, um sorriso, uma grande cura.
E acaso enquanto espera não vive? Parece que não. A paz só alcança os corações quando a espera chega ao fim. Que Deus mantenha meus olhos abertos, fazendo-me enxergar que vida é o que acontece enquanto sonhos não se concretizam. Que ele mantenha em mim a coragem de desejar, mas também desperte a serenidade de aceitar que certas coisas podem nunca se tornar uma realidade.

Sabrina Davanzo

2 de set. de 2009

Livro: Contos filosóficos do mundo inteiro


Acabei de ler o livro Contos filosóficos do mundo inteiro, de Jean Claude Carriére. Editora Ediouro. O livro é fantástico e traz uma compilação de contos, lendas dos mais remotos cantos do mundo até os mais conhecidos. São histórias que vão sendo contadas de geração para geração e que chegam até nós trazendo ensinamentos e reflexões. Adoro livros assim. Amei esse e recomendo!

"Uma vitória em questão

A um conquistador que era aclamado em todas as partes por uma vitória sobre inimigos, e sobre a qual ele se glorificava grandemente, um humilde mendigo perguntou:
- Quem era o mais forte? O inimigo ou você?
- Eu, certamente.
- Nesse caso, por que se glorificar por sua vitória?"

Pág. 115

Quem quiser saber mais sobre o livro, é só clicar aqui: contosfilosoficos

Sabrina Davanzo

21 de ago. de 2009

Peso para o que é leve


Tenho pena dos pesos para papel. Por mais que alguns sejam realmente lindos, nada muda seu triste destino de ser um empecilho na vida do que é, por natureza, leve.
E o pior é que tem gente que se parece com eles. Nasceu para acrescentar toneladas à vida do outro.

Sabrina Davanzo

19 de ago. de 2009

Antes de:


Da próxima vez, pensarei sete vezes antes de tomar uma decisão. Percebi que duas não adiantou muito.

Sabrina Davanzo

Bicho papão


O Bicho Papão dos adultos chama-se Solidão. Assusta. Ouvi dizer que tem gente que até morre de medo.

Sabrina Davanzo

Dobradura


Não posso dar asas a mim mesma. Isso eu descobri tentando algumas vezes. Nunca saí voando embora alguns momentos de imensa alegria ou tristeza fossem propícios para tal feito.
Conformei em dar asas às borboletas e pássaros que dobro cuidadosamente em papéis coloridos.
Depois de trazê-los à vida, não os prendo a mim. Distribuo-os aos meus amigos, que recebem achando graça e querendo aprender dar asas também. Nem que seja à imaginação. É uma corrente que não para. Desde então, todos os dias, nascem dezenas de pássaros e borboletas e, com eles, sorrisos.

Sabrina Davanzo

18 de ago. de 2009

Não-sei-o-que


Vez em quando esse não-sei-o-que que mora dentro de mim sai pra passear e me faz sentir arrepios, querer colo. Ensinaram que é preciso ser forte que nem São Jorge, que faz aniversário junto comigo e mora na lua. Mas lá ele tem as estrelas. Quem eu tenho por aqui? Só as pontas dos meus dedos suados de medo. Aperto com força. A dor faz esquecer dos arrepios e de que esse não-sei-o-que vive prestes a me sufocar.


Sabrina Davanzo

Diálogo


- Vê aquela estrada logo ali na frente? Coloca um pé na frente do outro e vai. Sem olhar pra trás.
- Não posso! Meus pés estão colados a este instante para sempre.
- Se você quiser, eles descolam. Mas só se você quiser.
- Não entendes que este é exatamente o meu problema? Não sei o que quero.

Sabrina Davanzo

17 de ago. de 2009

Mini Dino



Tikito era um azarado filhote de dinossauro que ninguém queria por perto. As pessoas acreditavam que ele cresceria muito, até não caber mais dentro de casa, nem no quintal, nem na cidade. Poderia até esmagar o dono.
Tikito nunca foi amado e o motivo era o prazo de validade desse sentimento.
Pois até um animalzinho jurássico sabia que as coisas não podiam ser levadas a ferro e fogo.
"os humanos são mesmos engraçados. Afastam deles mesmos a chance de ser feliz, pensando em algo que talvez nem aconteça."
Com Tikito foi assim. As pessoas não sabiam que ele nunca cresceria. Tikito era um dinossauro anão.

Sabrina Davanzo


Engenharia


Perdi muito tempo destruindo barreiras. Está na hora de construir pontes.


Sabrina Davanzo

14 de ago. de 2009

Adocicado



De manhã, amor em (des)pedaços.
A tarde, pé de moleque, para correr por aí.

A noite, sonho doce.


Sabrina Davanzo

13 de ago. de 2009


Acabei perdendo o fio da meada
A linha da minha vida anda muito embaraçada.

Sabrina Davanzo

Arrumação



Arrumei minha mala. É que amanhã vou viajar. Arrumei também meu quarto, que é para estar em ordem quando eu voltar. Tomara que eu continue assim... Quem sabe se de arrumação em arrumação acabo que organizo minha vida?

Sabrina Davanzo



11 de ago. de 2009

Efêmera


Para alguns a vida passa num piscar de olhos; Para outros, insônia.


Sabrina Davanzo

10 de ago. de 2009

Passarinho Azul

Pessoal, agora estou no Twitter também! Não sei colocar o link ali do lado =D
Ainda estou meio tímida por lá, mas apareçam! Ou, como diria a Altiva (Eva Wilma em A Indomada... lembra dela?): Follow me!

http://twitter.com/SabrinaDavanzo

Ps: Fui looonge agora, viu? hahahah

Beijos e obrigada pelas visitas! ;)

Sabrina Davanzo

9 de ago. de 2009

Trilha



Tem horas que faz falta um piano em casa.... notas musicais suaves e intensas para tornar o riso ou choro ainda mais bonito e inesquecível. A vida deveria ter trilha sonora.



Sabrina Davanzo



Sobre sonhar acordada




Ainda que lhe doa os músculos da face ela fecha os olhos com força e não para de sonhar. Não para. Já lhe avisaram mil vezes que existe vida através do espelho mas ela não quer acordar. É bom o que sente quando viaja dentro de si.
Para encarar a realidade conta até três. As pombinhas conhecem seu segredo porque quando ela se veste de adulta e sai para trabalhar, são elas quem lhe sorri. Ela acredita que há algo de mágico nos seres de asas. Ah, como gostaria de tê-las. Voaria para bem longe dos sonhos que já não podem mais serem sonhados. Sim, porque há restrições. Quando não há esperança, o sonho se torna ilusão e esta não é nada boa. É mentira vestida de palavra bonita.
Hoje, no sonho, nasceu uma florzinha frágil e ela pode com um anjo brincar. Ela quis ficar lá contemplando a flor, mas lhe avisaram que precisava voltar e encarar prédios encardidos. Para aliviar, buscava sobre eles o azul do céu e o calor do sol. Sim hoje fez bastante calor... Ainda bem, porque pelo avesso ela era só frio. Ficou de meia o dia todo.

Sabrina Davanzo



8 de ago. de 2009

Até onde a vista alcança?


Eu vivo em algum lugar deste universo infinito e gigante. Será que Deus consegue me enxergar lá de cima?

Sabrina Davanzo

6 de ago. de 2009

Meu inverso ganhou asas, voou...


Queridos e queridas!

É com bastante orgulho, lagriminha nos olhos e felicidades que informo a vocês que o Inverso Meu ganhou asas e pousou nas páginas de um livro. Meu primeiro livro.
Inverso Meu - Pequenas Histórias para Gente Grande, está sendo publicado pela Editora Multifoco e traz uma coletânea de textos do blog e alguns inéditos. Todos com novas e lindas ilustrações. Dessa vez, feitas por minha amiga e designer Clara Gontijo.
O lançamento está previsto para setembro. Enquanto isso, continuem por aqui fazendo a contagem regressiva comigo.

Obrigada pelo carinho de sempre, pelas palavras de apoio e incentivo. Adoro. De verdade! :)

Sabrina Davanzo

Amargura



Em um céu de brigadeiro, duas nuvenzinhas conversavam. A primeira, branquinha e fofa refletia os raios do sol ficando toda iluminada. A outra, cinza, carregada, parecia mais uma bola de chumbo perdida na paisagem.
- Para que tanta amargura? Perguntou a nuvenzinha que transbordava felicidade à amiga.
- Cansei de ser nuvem. Não tenho consistência, não posso ser tocada... Parece até que não sou real! E quer saber? Como são cansativos os dias e a noites. Resmungou.
- Mas e o fato de poder caminhar por todo o céu, que é infinito? Não te agrada? Podes ter a forma que quiser. Podes inclusive brincar com os humanos.. Eles adoram nos adivinhar.
- Não vejo vantagem nenhuma em caminhar ao léo e além do mais, não ligo para os humanos. Estão muito distantes de nós.
- Minha amiga, acho que não percebes a importância de ser quem tu és. Trabalhas em conjunto com o sol. No seu mais alto reinado, só tu podes se aproximar dele e fazer sombra fresca à terra.
A outra continuou a resmungar: o céu é sempre azul, a noite sempre muito escura...
A nuvenzinha feliz se afastou, deixando a companheira com seus pensamentos.
"Tem gente que não entende sua própria grandeza, nem dá valor ao paraíso que tem diante de si", disse ao sair.
"Cabruuuummm", trovejou a nuvem carregada e chorou.

Nesse momento, em algum lugar, começava a cair uma chuva grossa, doída e gelada.

Sabrina Davanzo

4 de ago. de 2009

Trenzinho

Minha vida é igual a um trenzinho de parque: cheia de altos e baixos.
Quando desce sinto medo, apavoro, grito...
Depois que sobe, sou só gargalhadas. Olho para trás e não acredito que me desesperei. No final, tudo acaba valendo a pena e, não raro, sendo muito divertido.
Ah! Esqueci de dizer: o trenzinho não para. "Moça, me vê mais um ingresso!"

Sabrina Davanzo

3 de ago. de 2009

Pedras no caminho



Andava despreocupada quando deu uma topada.
- Ai! Vê se olha por anda! Esbravejou Dona Pedra que acabara de levar uma pisada.
- Desculpe, Dona Pedra. Tenho tanta pressa... não a vi. Mas também, o que faz aí, bem no meio do caminho?
- Veja que insolente! Eu estou onde deveria estar. Aqui nasci e aqui vou ficar. E ai daquele que em mim tropeçar!
Observou-a desconcertada. Precisava ir andando.
-Desculpe mais uma vez, Dona Pedra. Não vou lhe incomodar, prestarei mais atenção.
Ela se foi. Dona Pedra continuou no mesmo lugar.

Vez ou outra você vai tropeçar, não há mal nenhum nisso. Pior é ser pedra que não sai do lugar. Vive levando topada e pior: atrapalha quem quer caminhar.

Sabrina Davanzo


"A vida é maior do que isso..."

Seria a vida maior do que amor? Para mim, o amor é base da vida. Viver é uma experiência que deve e merece ser compartilhada. Não quero conquistar o mundo e ao faze-lo não ter ninguém ao meu lado para dizer: eu consegui! Minha vida é resultado das relações que existem nela. São essas convivências que me movem, fortalecem e me fazem querer sonhar cada vez mais.

Sabrina Davanzo

31 de jul. de 2009

Refeição

Vez em quando ele come jiló. Só para lembrar que existem coisas bem mais amargas que sua vida.

Sabrina Davanzo

30 de jul. de 2009

Presente

Henrique Pimenta, do blog Bar do Bardo, presenteou-me com este lindo poema que compartilho com vocês:

Encantamento

- para a fada Sininho

Libélulas e sílfides em cruza,
fadinhas, borboletas, colibris,
um grumo de inocência na confusa

folia do jardim, como se diz
em época de amores "eu te adoro",
os seres e os encantos vão de bis

e tri e... não se cansam do canoro,
em nuvens de cantata para mim:
adentro no brinquedo que ignoro,

um anjo poliniza-me e... jasmim.

- Henrique Pimenta

Obrigada, Henrique! É lindo... estou encantada!

Alice



Eu me recuso a enxergar esse mundo cinza, poluído, com pouco rio para nadar, com cada vez menos árvores para me proteger do sol e menos ainda comida nas mesas.
Eu me recuso a acreditar que um pai não tem tempo de ver seu filho crescer porque está ocupado ganhando dinheiro e comprando apartamento de um milhão.
Hoje eu não quero ouvir sobre o castelo do político. Se for para falar de castelo, que seja sobre os construídos na areia, de brincadeira.
Hoje eu não quero saber se uma bomba explodiu no Iraque, porque isso simplesmente não deveria acontecer: mais que um atentado a um pedaço de terra e algumas vidas, esse ato é um atentado a felicidade do mundo.
Não me faça entender como um lugar tão grande como nosso planeta não tem casa para acolher todas as famílias, fazendo com que algumas delas tenham que morar nas ruas. Será que Deus errou nos cálculos? Ou foi a ganância que ocupou mais espaço? Nem me lembre dos cobertores de jornal dessas famílias. Só me mostre as tirinhas engraçadas e as palavras cruzadas.

Não me peça para imaginar chuvas que inundam casas e destroem tudo... só consigo imaginar chuva de bênçãos sobre cada cabeça cansada de tanta luta.

Ainda teimo em notar a diferença nas cores do céu, no por do sol e nunca na pele das pessoas que me cercam.

Hoje eu quero recolher todos os cachorros abandonados e coloca-los em casinhas de madeira confortáveis.

Quanto as crianças abandonadas, levarei todas para o parque de diversões, de onde nunca deveriam ter saído. Deverão manter um sorriso no rosto, enquanto forem apenas crianças nunca saberão o que é trabalho.
Não, eu não vou ligar a TV para assistir jornalismo sensacionalista e estúpido. Ao invés disso, vou confiar nos cientistas inteligentes e cultos que buscam a cura das doenças, alivio para as almas.
Eu prefiro a utopia. Estou de mudança para o Pais das Maravilhas. Quero voar com Peter Pan, viver na Terra do Nunca. Vou organizar uma revolução industrial nas fábricas de chocolate.

Há quem diga que fujo da realidade, mas me diga: Você QUER continuar vivendo aqui? Esperando ansiosamente que, ao sair de manhã, você volte seguro para a casa? Desejando que não seja hoje o dia em que aquele cara vai cruzar seu destino e levar sua carteira, sua identidade e talvez sua vida?

Estou cansada de agradecer por mais um dia “sobrevivido”, enquanto alguém cai no chão para nunca mais se levantar vitima de uma bala perdida.
Definitivamente, eu queria que o mundo fosse o meu quintal e não meu cantinho do castigo.

Ps: Será que esse mundo ainda tem jeito? Será que ainda dá tempo de fazer alguma coisa?


Sabrina Davanzo


24 de jul. de 2009

Purifica



A previsão do tempo é de chuva. Vou aproveitar para lavar minha alma com essa água que cai do céu. Tomara que Deus olhe para mim e veja que é de bom grado que recebo cada gota de purificação.
E quanto a você, chuva... desmancha com sua força mais que minha maquiagem ou penteado, desmancha minhas ilusões. Enquanto limpa minha pele, limpa também minha visão deturpada e me faz enxergar a realidade. Arraste com você o que não me pertence, o que não faz parte de mim, só assim poderei ser eu mesma. Caia o quanto quiser, o quanto for necessário para que eu me torne outra vez fértil. Não importa o quanto dure... eu acredito e confio que depois vem a luz do sol, igual toalha quentinha, para me aquecer.
Amém.

Sabrina Davanzo



23 de jul. de 2009

Sorriso estranho

Quando chegou à festa vestida toda de preto com uma meia-calça rosa bebê, todos notaram. Ainda bem. Reparando a meia, não notaram seu sorriso cinza e suas olheiras roxo-esverdeadas. "E essa meia de quando você tinha 12 anos?", alguém perguntou. "Está com saudade do seu tempo de bailarina?".
Ela usava a meia para disfarçar o clima fúnebre dentro dela. Constrangida com as brincadeiras, acabou indo discretamente ao banheiro retirar o motivo dos comentários.
Saiu e encarou outra vez os amigos. Agora, parecia pior. Exposta, sua pele branca, pálida, parecia nem ter sangue correndo nas veias. Tremia de frio e de medo. Não queria encarar aqueles tons escuros que teimavam lhe colorir.
Ele se aproximou dela e, com paciência, lhe perguntou: "Por que tirou a única coisa que lhe trazia um pouco de vida? Você precisa ficar alegre. Com as meias, você parecia sorrir. Ainda que com as pernas..." Ela lhe olhou desconfiada.. achou estranho e engraçado. Ele lhe conduziu aos empurrõezinhos e pediu que tratasse de vestí-la de novo.
Foi o que ela fez. Quando saiu, tímida, tinha um imenso "sorriso" cor de chiclete. De alguma forma, aquilo lhe deixou feliz.

Sabrina Davanzo


21 de jul. de 2009

Nascimento



Observavam o jardim ao entardecer. Os últimos raios de sol estabelecia uma cumplicidade alaranjada entre eles. Diante de uma roseira, ele sorriu, apontou para as flores que exalavam vida e suavidade e lhe perguntou: "Qual delas é você?". Com o olhar mergulhado em água que teimava em brotar, tocou um pequeno botão, tão fechado dentro de si que mal podia respirar, mal podia ser notado em meio a toda exuberância desabrochada a sua volta. "Sou esta aqui", respondeu num sussurro.
Observando-a com um misto de pena e admiração quis saber por quê. "Porque apesar de existir, ainda estou para nascer".

Sabrina Davanzo

Contra-tempo


Hoje ela tem pressa apenas para ser feliz. Não está correndo contra o tempo e não quer que nada ao seu redor seja assim. Para ele as horas são apressadas, então a procura por cinco ou dez minutos nem que seja para saber como ela está. Houve um tempo em que ele parecia ter a vida inteira para ela. Não. Ela não quer se conformar com o pouco que ele quer lhe oferecer agora.
A sua pressa é boa. É pressa que espera pelo o que ainda vai acontecer. Então ela lhe pede: Não atrapalhe minha calma de viver com sentimentalismos fora de lugar. Eles apenas roubam minha esperança por segundos e fazem com que eu me sinta vazia o resto do dia.

Sabrina Davanzo

10 de jul. de 2009

Acabou


Um dia eu experimentei felicidade. Era doce e, como tudo o que é bom, acabou rapidinho.


Sabrina Davanzo

7 de jul. de 2009

diagnóstico



Todo dia sentia uma dorzinha no coração, umas pontadas. Piorava a noite. Falaram que podia ser angina. Não era não. Ela sabia que o órgão lhe doía era de solidão.

Sabrina Davanzo

6 de jul. de 2009

Sorry

Todo mundo vem com um manual. Alguns, em inglês. Desculpe. Eu ainda não falo outra língua.

Sabrina Davanzo

Instruções


Rio que corre para o mar

lava minh'alma
sem me arrastar

margem que me mantém no lugar
segure-me
por favor, sem sufocar

lodo que cobre meu interior
acomode-se
de forma que eu não sinta dor.

Sabrina Davanzo

5 de jul. de 2009

Bandeira branca


Hoje meu espírito saiu em protesto em meio ao caos que se instalou nas avenidas de minha vida. Solitário, bradava gritos inaudíveis. Implorava por paz.

Sabrina Davanzo

1 de jul. de 2009

Faxina

Às vezes penso que o mundo necessita mais de consciência limpa do que de paz.

Sabrina Davanzo

29 de jun. de 2009

Dos livros que eu li

Acabei de ler O Som do Pasquim. Uma coletânea de entrevistas históricas de cantores como Tom Jobim, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Raul Seixas, Waldick Soriano, concedidas ao jornal O Pasquim, na década de 70. Achei super interessante. Dá para conhecer um pouco mais essas personalidades e também a realidade do mundo da música e do Brasil naquela época. Nas entrevistas, eles falam de suas músicas de sucesso, polêmicas. Deu vontade de sair ouvindo uma por uma. Foi o que eu fiz. Fantástico. As entrevistas são sempre marcadas pela irreverência do pessoal do jornal: Jaguar, Ziraldo, Millôr. Muito bom, vale a pena ler.

"A minha casa fica lá detrás do mundo
Onde eu vou em um segundo
Quando começo a pensar..."

Lupicínio Rodrigues ( um dos entrevistados)

Confiram o hotsite: O Som do Pasquim

Sabrina Davanzo

Inundação


Sou barragem que segura águas inquietas, revoltas. Um dia acaba que não me aguento: rompo.

Sabrina Davanzo

Sem destino


Como uma frágil e pequenina pétala, estou a voar ao sabor do vento. Não há muito o que eu possa fazer a não ser esperar que ele perca sua força para só então me deixar parar, para só então eu entender onde eu deveria chegar.

Sabrina Davanzo



Por perto

Ela esperava por ele como quem espera encontrar um oásis no meio do deserto. Resistia tentando manter sua dignidade, tentando não se perder rodeada de tanta ausência.
Então, numa tarde de nuvens escuras, ele apareceu. Chegou quando o mundo todo já havia ido.
Ele entende seu coração. Por isso, trouxe no sorriso o ânimo e a tranquilidade que ela tanto precisava.
Ele, que sempre está longe, é o primeiro a se fazer perto. Ela não precisa pedir. Ele sabe quando deve aparecer.

Sabrina Davanzo

26 de jun. de 2009

Raridade

Quanto mais eu cresço, menos amigos tenho. Quanto mais pessoas conheço, mais superficial se torna minha relação com elas. Lembro de uma época onde eu não concebia estar entre amigos e não abraça-los. Era impossível não existir intimidade. A proximidade física implicava cumplicidade, sintonia.
"Bom dia", "tudo bem" não eram obrigatórios caso o dia não estivesse valendo a pena ou a vida não estivesse lá grandes coisas.
Não se faz mais amigos como antigamente. Daqueles que você ganha não só atenção, mas colo. Já tive amigos de passar tardes pulando na cama imitando uma cantora mexicana sem saber falar espanhol. Já tive amigos de dividir a mesma lata de "leite moça" sem o menor receio pois havia confiança. Hoje, mal divido um sorriso, uma angústia.
Amigos como atigamente estão cada vez mais raros. Difíceis mesmo de se encontrar.
O que aconteceu? O mundo mudou? Ou será que fui eu?
Eu não sou mais a menina divertida e legal que eu era? Ou as pessoas não tem mais tempo para serem amigas?

Sabrina Davanzo


23 de jun. de 2009

Singelo:inocente;puro



Num dia desses, enquanto falava ao telefone, resolvendo um desses assuntos que parecem mais de morte do que de vida, eu fitava a imensa janela que tem na sala de casa e que dá para uma espécie de pátio. Absorta pela conversa, qual foi a minha surpresa quando de repente, com uma suavidade que não sou capaz de transcrever, um avião de papel corta o céu e pousa bem ali naquela imensa área do prédio. Tal foi a delicadeza do pouso que fiquei imaginando quem haveria de ser aquele piloto tão cuidadoso. E mais, quem teria enviado aquela aeronave de contornos tão perfeitos para perto mim? Emocionada com a simplicidade desta cena ante a complexidade da conversa ao telefone, comecei a sorrir e comentei com um que de anestesiada: "acabou de pousar um avião aqui.... o avião mais lindo e singelo que já vi". Sem entender nada, quem estava do outro lado da linha quis saber se eu estava bem ou se já começava a variar. Pedi desculpas e desliguei. Corri para a janela. Queria ver mais de perto o avião feito de folha de caderno. Que bobagem pareceu as tramas e os dramas em que me via envolvida. Aquele pontinho branco estacionado a alguns metros me mostrou que a vida pode ser mais leve, pode ter o peso de um avião de papel se a gente quiser.

Sabrina Davanzo


Invisível



A relação dos dois é como criança-escondida-atrás-da-cortina-com-o-pé-pra-fora. Ele sabe que ela está ali, mas finge que não vê. Lamentável dizer que não é para tornar a brincadeira mais emocionante. Ele age assim há mais de vinte anos.

Sabrina Davanzo

22 de jun. de 2009

Sussurros




Um dia, numa troca de emails escritos em itálico, você disse que ler assim era como ouvir sussurros narrados em primeira pessoa. Talvez seja porque escritas assim, deitadinhas, as palavras soem mais românticas, leves e íntimas.
Hoje, faço-me valer de tal delicadeza para te dizer bem baixinho: "eu ainda amo você.."

Sabrina Davanzo



21 de jun. de 2009

Dos livros que eu li


Acabei de ler Garoto Linha Dura de Stanislaw Ponte Preta. Achei sensacional. O autor escreve de forma tão simples que você começa a ler e não quer mais parar. No final, você se sente íntimo dele. O livro é uma série de crônicas (hilárias), ilustradas pelo Jaguar, que narra temas como repressão, traição, velório, miséria e tudo o que permeia o dia a dia das pessoas.

"-Qual é o sujeito que, tendo saído do povo e se tornado mais do que um simples elemento do povo, quer se integrar ao povo? Ninguém... porque ninguém é besta de andar pra trás. Por isso, é uma mentira, quando certos exploradores do povo vem com essa conversa de que falam pelo povo. Falam nada... eles estão querendo é se arrumar mais ainda, para ficar mais distante ainda do povo..."

O Discurso

Fica a dica: Garoto Linha Dura

Sabrina Davanzo

17 de jun. de 2009

Para sempre

Perguntava, aflita, a quem passava por sua janela:
- Quantos dias são necessários para se fazer uma eternidade?
"Cinco" respondia um, "mais de mil" respondia outro, "um infinito de calendários" sugeria alguém mais por dentro do assunto.
Uma eternidade deve ser mais do que suficiente para se aprender algumas coisas. Nunca ouvi dizer que alguém levou duas ou três dessas para fazer o que quer que seja.
Há quem diga que a eternidade é um lugar e para lá, diariamente, são mandadas coisas, pessoas, palavras. "Não me lembro de ninguém que tenha ido para a eternidade e voltado", pensava.
E então, da janela, perguntava aflita:
- Ei, senhora... quanto tempo leva para uma eternidade passar?

Sabrina Davanzo

16 de jun. de 2009

Enchimento


Fico olhando para o coelho que mora em cima da minha cama, tão cheio de si.
Eu que ando me sentindo tão vazia. Peço para ele um pouco daquela coisa que o torna tão fofinho para preencher o buraco que tenho no coração. Ele diz que não pode. Se ele me completar, quem vai ficar murcho é ele.

Sabrina Davanzo

15 de jun. de 2009

Dos livros que eu li

Hoje é dia de novidades aqui no Inverso. A Editora Ediouro enviou-me de presente um Livro para ler, com a condição de que eu falasse sobre ele aqui no blog. Aceitei correndo. Afinal, tenho certeza que todos vocês que vem até aqui todos os dias também adoram ler e não é nada mal receber dicas de livros legais. Para democratizar, gostaria muito que nos comentários vocês colocassem o que estão lendo, o que leram e gostaram.

O livro enviado pela Ediouro, chama-se Obra Imatura de Mário de Andrade. Com um pouquinho de tudo, poesia, ficção e ensaio, é possível fazer uma viagem maravilhosa pelos primeiros trabalhos do escritor com as palavras. Ler Mário de Andrade é um prazer. Até então, eu só havia lido Macunaíma de sua autoria. Adorei principalmente suas poesias.

" ... E, vagarosamente, se entranhando
no perfume vermelho da manhã,
ela vem triste, como que sonhando,
- ela, que é sã-
e ele, - o ferido- traz sorrisos francos,
vem assobiando entre seus lábios brancos
uma valsa alemã..."

Trecho de Epitalâmio

Para saber mais sobre o livro é só clicar aqui: Obra Imatura

Sabrina Davanzo


Eu no Releituras

Com muito prazer, compartilho uma novidade com vocês: O Projeto Releituras acaba de dedicar uma página a um texto meu na sessão Novos Escritores.
O texto não é novo por aqui mas é bom vê-lo fazer parte de um projeto tão bacana quanto este.
Para quem quiser conferir é só clicar aqui ó: Releituras - Novos escritores

Sabrina Davanzo

Des-matar


Adentrou aquele matagal denso, escuro, onde apenas poucos raios de sol conseguiam penetrar.
Levou uma pequena foice para o caso de não conseguir arrancar com as próprias mãos algo que pudesse lhe impedir o caminho.
No meio do mato alto, que quase cobria o seu corpinho franzino, procurou um sorriso, uma amarelinha da infância, as amizades verdadeiras. Procurou pelos carinhos recebidos e doados, pelos sonhos que deixou para trás, pelas pequenas felicidades que viveu.
Juntava os cacos, o que restou e se misturou àquela lama toda no imenso pântano que havia se tornado o seu coração. Precisava encontrar um por um, nem que fosse para provar para si mesma que, um dia, havia sido inteira. Um dia, havia sido floresta de conto de fadas.

Sabrina Davanzo



12 de jun. de 2009

Chronos


Tive uma conversa séria, de longas horas, com certo senhor. Ele me disse que não tem jeito mesmo: tem que ser vinte e quatro horas, contadinhas, por vez. Não dá para acelerar. Achei que explicando meu problema, falando sobre a minha dor, ele pudesse fazer alguma coisa. Mas não dá. Tenho mesmo que esperar um dia inteiro, depois outro, depois outro. Até aliviar. Enquanto isso, ele me mandou comer bolachas recheadas. É gostoso e distrai.

Sabrina Davanzo

10 de jun. de 2009

Capítulo um


Para que uma história comece, é preciso que outra termine.


Sabrina Davanzo

8 de jun. de 2009

Sobre inverno e o frio dentro de mim

Neste frio cinza que congela meus ossos, debaixo de camadas impessoais de casacos negros puídos, minhas meias coloridas me alegram, trazem a esperança de que sim, eu posso me aquecer. Sim, com paciência, logo chega o verão.

Sabrina Davanzo



5 de jun. de 2009

Cubo mágico


No meu prédio tem um velhinho desses simpáticos que usam pulover e meias de lã. Não o conheço. Não sei sequer o andar que ele mora. Mas de uma coisa eu desconfio: ele é professor de cubo mágico. Sempre que passo pela portaria ele está lá com um cubo colorido nas mãos, explicando a algum dos porteiros como colocar as cores iguais, lado a lado, em tempo ágil.
A vida tem mesmo dessas coisas. Cria pra gente umas manias esquisitas, engraçadas, bonitinhas.
Esse meu vizinho tem mania de cubo mágico. Passa horas tentando organizar as cores.

Sabrina Davanzo

31 de mai. de 2009

Sobre letras e barcos

Barquinho de papel desliza na água
leva embora o ditado escrito com tanto esmero.
Cada letra bordadinha em seu devido lugar,
Encantava a professora
era bonito de se olhar.

Podia ser um barquinho de álgebra, ou ciência.
Mas seria muita responsabilidade para a embarcação.
Imagina informar os passageiros
sobre raiz quadrada de setenta e oito
ou, pior, contar sobre as células do corpo.

Melhor um barquinho pautado, bem aportuguesado
que sabe de cor e salteado
qualquer palavra que lhe perguntar.

Essa viagem, tem uma tripulação especial.
Junto com o barquinho
vai o trema que caiu em desuso e depressão,
e o acento de ideia, que não tem mais utilização.
Só ficou de fora o hífen, que com tanta confusão,
esse o barquinho não leva não.

Sabina Davanzo

Texto postado no Coletânea Artesanal que, este mês, tem o tema Sobre letras e barcos.


29 de mai. de 2009

Relógio


De repente, o tempo começou a andar devagar. Cada segundo é uma eternidade. Cada hora dura mil vezes mais do que deveria durar. Parece que os ponteiros se apaixonaram pelos números e não querem sair do lugar. A noite não tem fim e quando vem o dia, começa toda a lentidão de novo. 
Passa, tempo... Passa que eu também quero passar. 

Sabrina Davanzo

27 de mai. de 2009

Sobre jujubas e as delícias da vida



-Fica sempre esse gosto de quero mais quando acaba? Perguntou se pendurando no balcão, tentando enxergar o velho vendedor. 
-Somente quando foi muito bom.  
-Mas então por que acaba? 
-Para que você possa experimentar outros sabores. 
- E eu posso querer sempre do mesmo?
- Se quiser, você pode. Escolha o seu sabor preferido e experimente de novo e de novo e de novo. 

Sabrina Davanzo 



Porque 10 é número bom!


Na escola, quem tira 10 é bom aluno. Nas escalas imaginárias você sempre analisa algo de 0 a 10. 10 reais é uma boa quantia para se ter na carteira. Quando alguém é muito legal, sempre podemos recorrer à velha gíria " fulano é nota 10".

Hoje, o inverso também é 10. 10 mil visitas. Isso é tão bom! É como se eu tivesse tirado a nota mais alta, minha escala chegasse ao máximo e de quebra eu tivesse esse dinheiro para gastar com chocolate e sorvete, tudo ao mesmo tempo.
Por 10 mil vezes o inverso foi visto, lido, admirado.
Quero muito agradecer a todos vocês que aparecem por aqui há oito meses, chegaram agorinha, passam de vez em quando, visitando ou deixando comentários que eu adoro receber.
Obrigada! Vocês também são 10!

Sabrina Davanzo

26 de mai. de 2009

Desculpas


E ela, que só queria ser boa e fazer o bem, vezenquando maltratava alguns corações. 
Doeria menos se ela explicasse que não teve a intenção? 

Sabrina Davanzo 

25 de mai. de 2009

Primeiro Ato


Ficou ali, observando o passarinho na gaiola que voava pra aqui e pra ali todo atarefado. E comia. E cantava. E bebia água e voava baixinho e curto de novo.
- Não te cansas essa monotonia? Quanto tempo ainda há de aguentar, até que te tornes livre para viver?
O passarinho estufou o peito, afinou o bico e respondeu:
- Ora, pois eu já vivo. A vida é peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, pouco importa onde instalaram o meu palco, trato logo é de ser um bom ator.

Sabrina Davanzo

Furacão


Tem horas que se sente na obrigação de ser feliz. É quando menos consegue.
Para ela a felicidade não é inata, inerente, não vem fácil. É algo que deve ser buscado. Uma busca sem fim, que cansa e no final só encontra frustração e desespero.
É aí que vem o choro e a vontade de parar de buscar. Mas não para. É anciosa demais para sentar e esperar.
Quando era pequena era mais fácil. Tinha um passarinho que cantava dentro dela e a liberdade dele reinava.
Por dentro, hoje, ela só tem um furacão que consome tudo. Que faz barulho. Que assusta, mas não mata.

Sabrina Davanzo

22 de mai. de 2009

?

Sabe quando você não sabe o que fazer? O que você faz?

Sabrina Davanzo

21 de mai. de 2009

Recordação



Numa tarde de sol, do alto dos meus três anos, eu via pela janela um senhorzinho que subia a rua puxando uma zebrinha por uma corda. Os dois subiam mansos, com aquela preguiça que um sol quente traz.
O senhorzinho, me vendo pendurada na janela, abriu um sorriso e perguntou:
- A mãe tá aí?
Não obtendo nenhuma reposta minha, tocou a campanhia, que foi atendida por minha mãe. 
Depois de alguns dedos de prosa ela me chamou: 
- Vem tirar foto! 
E foi assim que nasceu uma linda recordação de minha tenra idade. No passeio de casa, com os raios de sol iluminando minha alegria e excitação, minha mãe me sentou no lombo da zebrinha, e o senhorzinho registrou o momento em sua câmera fotográfica.
Só Muitos anos depois é que fui perceber que a zebrinha na verdade era uma mulinha com listras pintadas à mão. Achei engraçada a situação... Mas para mim, continuou sendo uma zebrinha. Dessas que vem lá da Savana Africana para tirar retrato com a gente. 

Sabrina Davanzo 



16 de mai. de 2009

Discontos de fadas


Quando era pequena adorava ouvir o vinil azul do Patinho feio que ficava na casa da minha vó. Não me lembro de ter visto filme, desenho, livro dessa mesma história que tenha me marcado tanto. O narrador, com sua voz grave, denotou uma feiúra para o patinho que imagem nenhuma poderia representar. E como isso me entristecia. Como pode ter sido tão humilhado, tão desprezado? Afinal, feio ou bonito, são as diferenças que nos fazem ser quem nós somos.
Claro que, naquela época, eu não formulava esse raciocínio em minha cabeça, mas sabia que isso era o que me incomodava. E se eu também fosse feia? Nunca seria aceita? O pobre patinho, que na verdade era um cisne, enfrentou até bicadas de galinhas. Sentia profundamente aquelas bicadas. Chegava a imaginar a dor do coitado. Com lágrimas nos olhos, ouvia o canto das avezinhas que entoavam com suas vozinhas finas a canção “nós somos as garcinhas, somos umas gracinhas...”. Imaginava se elas eram mesmo tão bonitinhas e quanto devia partir o coração do patinho ouvir isso. Ele que era só um cisnezinho novo que nem conhecia o mundo, que nem conhecia a si próprio.
Ainda bem que no final tudo se resolvia. Sentada ao pé da vitrola, sem quase nem respirar para não fazer barulho e perder a história, eu realmente sentia um grande alívio quando a tormenta passava. Quando terminava o vinil, eu o pegava e ficava admirando. Como cabia uma história tão pesada como aquela daquele disquinho azul claro? Guardava na capinha rota de nem sei quantos anos. Sempre pensava que um dia ouviria de novo. No fundo, queria que na próxima vez a história tivesse mudado. Queria que o patinho não sofresse tanto. Já naquela idade eu tentava aprender formas de não enfrentar a dor.

Sabrina Davanzo

Texto postado originalmente no blog Discontos de fadas da artista plástica Adriana Peliano.