29 de jun. de 2009

Dos livros que eu li

Acabei de ler O Som do Pasquim. Uma coletânea de entrevistas históricas de cantores como Tom Jobim, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Raul Seixas, Waldick Soriano, concedidas ao jornal O Pasquim, na década de 70. Achei super interessante. Dá para conhecer um pouco mais essas personalidades e também a realidade do mundo da música e do Brasil naquela época. Nas entrevistas, eles falam de suas músicas de sucesso, polêmicas. Deu vontade de sair ouvindo uma por uma. Foi o que eu fiz. Fantástico. As entrevistas são sempre marcadas pela irreverência do pessoal do jornal: Jaguar, Ziraldo, Millôr. Muito bom, vale a pena ler.

"A minha casa fica lá detrás do mundo
Onde eu vou em um segundo
Quando começo a pensar..."

Lupicínio Rodrigues ( um dos entrevistados)

Confiram o hotsite: O Som do Pasquim

Sabrina Davanzo

Inundação


Sou barragem que segura águas inquietas, revoltas. Um dia acaba que não me aguento: rompo.

Sabrina Davanzo

Sem destino


Como uma frágil e pequenina pétala, estou a voar ao sabor do vento. Não há muito o que eu possa fazer a não ser esperar que ele perca sua força para só então me deixar parar, para só então eu entender onde eu deveria chegar.

Sabrina Davanzo



Por perto

Ela esperava por ele como quem espera encontrar um oásis no meio do deserto. Resistia tentando manter sua dignidade, tentando não se perder rodeada de tanta ausência.
Então, numa tarde de nuvens escuras, ele apareceu. Chegou quando o mundo todo já havia ido.
Ele entende seu coração. Por isso, trouxe no sorriso o ânimo e a tranquilidade que ela tanto precisava.
Ele, que sempre está longe, é o primeiro a se fazer perto. Ela não precisa pedir. Ele sabe quando deve aparecer.

Sabrina Davanzo

26 de jun. de 2009

Raridade

Quanto mais eu cresço, menos amigos tenho. Quanto mais pessoas conheço, mais superficial se torna minha relação com elas. Lembro de uma época onde eu não concebia estar entre amigos e não abraça-los. Era impossível não existir intimidade. A proximidade física implicava cumplicidade, sintonia.
"Bom dia", "tudo bem" não eram obrigatórios caso o dia não estivesse valendo a pena ou a vida não estivesse lá grandes coisas.
Não se faz mais amigos como antigamente. Daqueles que você ganha não só atenção, mas colo. Já tive amigos de passar tardes pulando na cama imitando uma cantora mexicana sem saber falar espanhol. Já tive amigos de dividir a mesma lata de "leite moça" sem o menor receio pois havia confiança. Hoje, mal divido um sorriso, uma angústia.
Amigos como atigamente estão cada vez mais raros. Difíceis mesmo de se encontrar.
O que aconteceu? O mundo mudou? Ou será que fui eu?
Eu não sou mais a menina divertida e legal que eu era? Ou as pessoas não tem mais tempo para serem amigas?

Sabrina Davanzo


23 de jun. de 2009

Singelo:inocente;puro



Num dia desses, enquanto falava ao telefone, resolvendo um desses assuntos que parecem mais de morte do que de vida, eu fitava a imensa janela que tem na sala de casa e que dá para uma espécie de pátio. Absorta pela conversa, qual foi a minha surpresa quando de repente, com uma suavidade que não sou capaz de transcrever, um avião de papel corta o céu e pousa bem ali naquela imensa área do prédio. Tal foi a delicadeza do pouso que fiquei imaginando quem haveria de ser aquele piloto tão cuidadoso. E mais, quem teria enviado aquela aeronave de contornos tão perfeitos para perto mim? Emocionada com a simplicidade desta cena ante a complexidade da conversa ao telefone, comecei a sorrir e comentei com um que de anestesiada: "acabou de pousar um avião aqui.... o avião mais lindo e singelo que já vi". Sem entender nada, quem estava do outro lado da linha quis saber se eu estava bem ou se já começava a variar. Pedi desculpas e desliguei. Corri para a janela. Queria ver mais de perto o avião feito de folha de caderno. Que bobagem pareceu as tramas e os dramas em que me via envolvida. Aquele pontinho branco estacionado a alguns metros me mostrou que a vida pode ser mais leve, pode ter o peso de um avião de papel se a gente quiser.

Sabrina Davanzo


Invisível



A relação dos dois é como criança-escondida-atrás-da-cortina-com-o-pé-pra-fora. Ele sabe que ela está ali, mas finge que não vê. Lamentável dizer que não é para tornar a brincadeira mais emocionante. Ele age assim há mais de vinte anos.

Sabrina Davanzo

22 de jun. de 2009

Sussurros




Um dia, numa troca de emails escritos em itálico, você disse que ler assim era como ouvir sussurros narrados em primeira pessoa. Talvez seja porque escritas assim, deitadinhas, as palavras soem mais românticas, leves e íntimas.
Hoje, faço-me valer de tal delicadeza para te dizer bem baixinho: "eu ainda amo você.."

Sabrina Davanzo



21 de jun. de 2009

Dos livros que eu li


Acabei de ler Garoto Linha Dura de Stanislaw Ponte Preta. Achei sensacional. O autor escreve de forma tão simples que você começa a ler e não quer mais parar. No final, você se sente íntimo dele. O livro é uma série de crônicas (hilárias), ilustradas pelo Jaguar, que narra temas como repressão, traição, velório, miséria e tudo o que permeia o dia a dia das pessoas.

"-Qual é o sujeito que, tendo saído do povo e se tornado mais do que um simples elemento do povo, quer se integrar ao povo? Ninguém... porque ninguém é besta de andar pra trás. Por isso, é uma mentira, quando certos exploradores do povo vem com essa conversa de que falam pelo povo. Falam nada... eles estão querendo é se arrumar mais ainda, para ficar mais distante ainda do povo..."

O Discurso

Fica a dica: Garoto Linha Dura

Sabrina Davanzo

17 de jun. de 2009

Para sempre

Perguntava, aflita, a quem passava por sua janela:
- Quantos dias são necessários para se fazer uma eternidade?
"Cinco" respondia um, "mais de mil" respondia outro, "um infinito de calendários" sugeria alguém mais por dentro do assunto.
Uma eternidade deve ser mais do que suficiente para se aprender algumas coisas. Nunca ouvi dizer que alguém levou duas ou três dessas para fazer o que quer que seja.
Há quem diga que a eternidade é um lugar e para lá, diariamente, são mandadas coisas, pessoas, palavras. "Não me lembro de ninguém que tenha ido para a eternidade e voltado", pensava.
E então, da janela, perguntava aflita:
- Ei, senhora... quanto tempo leva para uma eternidade passar?

Sabrina Davanzo

16 de jun. de 2009

Enchimento


Fico olhando para o coelho que mora em cima da minha cama, tão cheio de si.
Eu que ando me sentindo tão vazia. Peço para ele um pouco daquela coisa que o torna tão fofinho para preencher o buraco que tenho no coração. Ele diz que não pode. Se ele me completar, quem vai ficar murcho é ele.

Sabrina Davanzo

15 de jun. de 2009

Dos livros que eu li

Hoje é dia de novidades aqui no Inverso. A Editora Ediouro enviou-me de presente um Livro para ler, com a condição de que eu falasse sobre ele aqui no blog. Aceitei correndo. Afinal, tenho certeza que todos vocês que vem até aqui todos os dias também adoram ler e não é nada mal receber dicas de livros legais. Para democratizar, gostaria muito que nos comentários vocês colocassem o que estão lendo, o que leram e gostaram.

O livro enviado pela Ediouro, chama-se Obra Imatura de Mário de Andrade. Com um pouquinho de tudo, poesia, ficção e ensaio, é possível fazer uma viagem maravilhosa pelos primeiros trabalhos do escritor com as palavras. Ler Mário de Andrade é um prazer. Até então, eu só havia lido Macunaíma de sua autoria. Adorei principalmente suas poesias.

" ... E, vagarosamente, se entranhando
no perfume vermelho da manhã,
ela vem triste, como que sonhando,
- ela, que é sã-
e ele, - o ferido- traz sorrisos francos,
vem assobiando entre seus lábios brancos
uma valsa alemã..."

Trecho de Epitalâmio

Para saber mais sobre o livro é só clicar aqui: Obra Imatura

Sabrina Davanzo


Eu no Releituras

Com muito prazer, compartilho uma novidade com vocês: O Projeto Releituras acaba de dedicar uma página a um texto meu na sessão Novos Escritores.
O texto não é novo por aqui mas é bom vê-lo fazer parte de um projeto tão bacana quanto este.
Para quem quiser conferir é só clicar aqui ó: Releituras - Novos escritores

Sabrina Davanzo

Des-matar


Adentrou aquele matagal denso, escuro, onde apenas poucos raios de sol conseguiam penetrar.
Levou uma pequena foice para o caso de não conseguir arrancar com as próprias mãos algo que pudesse lhe impedir o caminho.
No meio do mato alto, que quase cobria o seu corpinho franzino, procurou um sorriso, uma amarelinha da infância, as amizades verdadeiras. Procurou pelos carinhos recebidos e doados, pelos sonhos que deixou para trás, pelas pequenas felicidades que viveu.
Juntava os cacos, o que restou e se misturou àquela lama toda no imenso pântano que havia se tornado o seu coração. Precisava encontrar um por um, nem que fosse para provar para si mesma que, um dia, havia sido inteira. Um dia, havia sido floresta de conto de fadas.

Sabrina Davanzo



12 de jun. de 2009

Chronos


Tive uma conversa séria, de longas horas, com certo senhor. Ele me disse que não tem jeito mesmo: tem que ser vinte e quatro horas, contadinhas, por vez. Não dá para acelerar. Achei que explicando meu problema, falando sobre a minha dor, ele pudesse fazer alguma coisa. Mas não dá. Tenho mesmo que esperar um dia inteiro, depois outro, depois outro. Até aliviar. Enquanto isso, ele me mandou comer bolachas recheadas. É gostoso e distrai.

Sabrina Davanzo

10 de jun. de 2009

Capítulo um


Para que uma história comece, é preciso que outra termine.


Sabrina Davanzo

8 de jun. de 2009

Sobre inverno e o frio dentro de mim

Neste frio cinza que congela meus ossos, debaixo de camadas impessoais de casacos negros puídos, minhas meias coloridas me alegram, trazem a esperança de que sim, eu posso me aquecer. Sim, com paciência, logo chega o verão.

Sabrina Davanzo



5 de jun. de 2009

Cubo mágico


No meu prédio tem um velhinho desses simpáticos que usam pulover e meias de lã. Não o conheço. Não sei sequer o andar que ele mora. Mas de uma coisa eu desconfio: ele é professor de cubo mágico. Sempre que passo pela portaria ele está lá com um cubo colorido nas mãos, explicando a algum dos porteiros como colocar as cores iguais, lado a lado, em tempo ágil.
A vida tem mesmo dessas coisas. Cria pra gente umas manias esquisitas, engraçadas, bonitinhas.
Esse meu vizinho tem mania de cubo mágico. Passa horas tentando organizar as cores.

Sabrina Davanzo