7 de fev. de 2013

Papo de mulherzinha: cabelo, maturidade, padrões da sociedade


Os meninos leitores do blog que me desculpem, mas hoje o texto é para as meninas. Tenho certeza que elas vão me entender.
Por muito tempo tive “problemas” com meu cabelo. Ele não é completamente liso, mas também não é cacheado (o que eu acho lindo!). Ele tem ondas. Gigantes. Verdadeiros tsunamis que assumem forma própria e diferente a cada dia ou a cada vez que tento fazer alguma coisa nele.
Quando eu era mais nova, sem o recurso da prancha, a solução era prender. Morria de vergonha de soltar aqueles poucos fios que não assentavam. A gominha era minha melhor amiga.

Na adolescência, as pranchas invadiram as lojas e salvaram a minha autoestima nesse momento da vida em que ela é fundamental, pois molda a nossa confiança em nós mesmos para sempre (esta é uma teoria minha, assunto para outro texto). A prancha se tornou minha companheira fiel antes das baladas e no colégio, de segunda a sexta.
Na faculdade, ela também foi minha aliada porque, óbvio, eu queria chamar a atenção dos garotos que, como a TV, o mundo fashion, a indústria de cosméticos e sei lá mais quem, acham normal e lindo ter – exclusivamente – o cabelo longo e liso. Fiz lá o meu sucessinho, me mantive no padrão.

Quando cheguei à idade adulta entrei de vez na onda do último grito para alisar cabelos. Nada de esconder da chuva, desviar das goteiras, arrumar três horas antes de sair de casa. Definitivamente, era o tempo da progressiva. Fátima Bernardes deu o pontapé inicial por aqui nessa revolução capilar e eu fui atrás.

Nada como ter um cabelo liso sempre né? Dormir e acordar como as atrizes de cinema.
Se a moda era ter o cabelo emplastrado de formol e, claro, extremamente liso, achei que era hora de arriscar um corte mais moderninho. Cortei ele bem curtinho e... uau! Ele continuava bem alinhado... um sucesso!
Eu estava muito feliz com meu novo corte e meus fios devidamente no lugar quando começaram a sair notícias sobre os malefícios e picaretagens que envolviam os produtos utilizados na escova progressiva, além do preço que já começava a pesar no bolso.

Desafiando a minha autoestima satisfeita, desafiando todo um conceito que eu tinha sobre como deveria ser a minha imagem, decidi abolir o produto da minha vida. Cortei o cabelo ainda mais curto e assumi, definitivamente, a cabeleira. Fiquei com aquele ar de acabei de acordar/me desculpe saí de um furacão. E quer saber? Me senti muito melhor.
Parecia que há anos eu esperava por essa libertação. Meu cabelo sempre foi desgrenhado e eu nunca quis aceitar isso.
Hoje, nem sempre estou satisfeita com os fios, mas paciência. Nem nosso humor é mesmo todos os dias. E isso também é muito legal: um dia você acorda, ou lava o cabelo, ele seca e voilá! Ele está bonito, diferente. Você nunca sabe o que vai ser.
Conseguir manter meu cabelo natural me fez suspeitar que eu estava mesmo crescendo. Fiquei mais confiante. Comecei a pensar que se alguém me quisesse, teria que aceitar meu cabelo rebelde.
E acreditem, meninas, foi bem nessa época que meu namorado apareceu lindo e apaixonado. E tem mais: uma das primeiras coisas que ele notou/comentou foi o bendito do cabelo.

A certeza de que junto com o cabelo natural veio a maturidade eu tive essa semana depois de comprar um xampu de uma marca nova.
Depois de alguns dias, notei que minhas ondas irregulares estavam desaparecendo, dando lugar a um liso meio sem sal (como o xampu).
Corri na farmácia e comprei outro. Para cabelos ondulados. Que mantém as ondas perfeitas por até 24 horas. Amém.
Voltei a ter personalidade. A minha personalidade: desgrenhada, descabelada, acordei e vim. Esta sou eu. E ele me ama assim.

Eu tenho plena consciência de que não sou uma Grazi Massafera, por isso meu cabelo não precisa ser igual ao dela no comercial de tal xampu. A gente se assumir do jeito que é, se aceitar, gostar do que vemos diante do espelho é de uma leveza que produto nenhum conseguiu ainda trazer à pele, aos cabelos, à vida. Experimentem e depois me contem.

Ps: meninos, se vocês foram curiosos e leram até aqui, lembrem-se de valorizar a pessoa que está com vocês  pelas suas características únicas, que faz com que cada um seja exatamente e exclusivamente como é.

Sabrina Davanzo

Imagem: El Blog de Alicia