23 de jul. de 2009

Sorriso estranho

Quando chegou à festa vestida toda de preto com uma meia-calça rosa bebê, todos notaram. Ainda bem. Reparando a meia, não notaram seu sorriso cinza e suas olheiras roxo-esverdeadas. "E essa meia de quando você tinha 12 anos?", alguém perguntou. "Está com saudade do seu tempo de bailarina?".
Ela usava a meia para disfarçar o clima fúnebre dentro dela. Constrangida com as brincadeiras, acabou indo discretamente ao banheiro retirar o motivo dos comentários.
Saiu e encarou outra vez os amigos. Agora, parecia pior. Exposta, sua pele branca, pálida, parecia nem ter sangue correndo nas veias. Tremia de frio e de medo. Não queria encarar aqueles tons escuros que teimavam lhe colorir.
Ele se aproximou dela e, com paciência, lhe perguntou: "Por que tirou a única coisa que lhe trazia um pouco de vida? Você precisa ficar alegre. Com as meias, você parecia sorrir. Ainda que com as pernas..." Ela lhe olhou desconfiada.. achou estranho e engraçado. Ele lhe conduziu aos empurrõezinhos e pediu que tratasse de vestí-la de novo.
Foi o que ela fez. Quando saiu, tímida, tinha um imenso "sorriso" cor de chiclete. De alguma forma, aquilo lhe deixou feliz.

Sabrina Davanzo


4 comentários:

BAR DO BARDO disse...

De fato, você está muito estranha, Sininho...

Monique disse...

Espero que seja do tipo que gruda no rosto e não sai mais! :D

Renata de Aragão Lopes disse...

Que prosa mais tutti fruti, Sabrina...
Declarou-se doce,
mas artificial.

Primeiro me veio a ideia.
Só depois fui conferir
de que é feito o sabor tutti fruti! (risos)
No Brasil,
é produzido pela mistura
das seguintes substâncias aromáticas sintéticas:
laranja, banana, abacaxi, baunilha e morango.

Masque este chiclete
ainda que lhe doa o maxilar
- você já disse que dói e o quanto dói.
Chegará a hora de deixá-lo no lixo...

Um beijo e bom fim de semana,
doce de lira

Priscila Rôde disse...

Adoreiii o blog =)