19 de out. de 2008

Balão





Ela tremia toda segurando a linha entre os dedos magros. Ao final da linha, lá em cima, um balão vermelho.
Andando pela calçada, levando aquele objeto delicado, ela era alvo de olhares furtivos. Afinal, ninguém assume um balão além das crianças e dos vendedores. Mas isso não a incomodava. Pelo contrário, essa atitude esperada das pessoas era o que a fazia sentir-se diferente, corajosa, superior.
Parou em plena avenida movimentada. Ruídos de carros, barulho de vida. Sim, porque se faz muito barulho enquanto se vive. Foi então que ali, no meio da avenida, sentiu a linha frágil escapar-lhe pelos dedos. O balão tomou altura, subiu.
Lá de baixo ela o via se misturar aos outdoors, aos fios da companhia elétrica. Tão cheio de sopro aquele balão… os balões são feitos do sopro que extraímos de dentro da gente. E aquele balão vermelho ia ganhando altura com o sopro dela. Se afastando, levava o que fazia a diferença na menina. Ela que usava balão do lado de fora.
Quando ele sumiu de vista, ela se pôs a caminhar encurvada. Não saberia ser sem ele nas mãos. Sentia-se envergonhada por não ter mais o balão que é sopro, ar. Ainda mais vermelho. Vermelho que é vida, sangue na veia. Sem ar a gente não vive.
A vida é feita de sopro que entra e sai e sangue que corre. É como se dentro da gente existissem milhares de balões vermelhos. A gente sente quando um ganha altura e se vai. Quando isso acontece a gente perde o ar, perde a cor.
Quando isso acontece é preciso um tempo para retomar o ritmo e a respiração. É difícil voltar ao normal quando se perde um balão.

Sabrina Davanzo





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