22 de ago. de 2010

Travessia


E numa noite escura e sem lua, ela se viu dentro de um barco miserável, conduzido por um senhor que o guiava em meio as águas turvas e sonolentas. Nem uma estrela, nenhum sinal de vida além dos dois, apenas a imensidão.
Desesperada, ela gritava com o senhor exigindo que voltassem:
-Tenho medo, não vês? Estou apavorada! Nunca vi tanta escuridão. Estou sozinha. Volte! Volte!
Ele pediu que tivesse calma. Certamente chegariam a algum lugar e ele estava ali. Tinha experiência naquela travessia, conduziria-a com segurança.
Quanto mais a noite avançava, mais medo ela sentia. Quase podia tocar a negritude de tão densa, o que lhe causava arrepios. O barco deslizava devagar, dando a impressão de estar parado naquele deserto de água por todos os lados. A respiração dela tinha um ritmo acelerado e então insistiu com o senhor:
- Por favor, tire-me daqui! Estou sufocada... não gosto desse lugar!
Ele tentou confortá-la explicando que era exatamente o que fazia ao comando do barco. Estava tirando-a dali. Sugeriu que ela dormisse e lhe prometeu que ao despertar a paisagem seria diferente.
Ela respondeu que nunca conseguiria dormir naquele estado e que ficar acordada também era ruim. Ameaçou pular do barco. O velho a olhou com bondade e sussurrou como que para si mesmo que na água gelada sua frustração e desespero seriam ainda pior..."Por que eles não enxergam? Por que não entendem?" Resmungou olhando para o céu.
Ela nem sabe quanto tempo passou lutando contra aquela noite assustadora e parada, mas, de tanto pelejar, acabou ficando exausta e adormeceu. Foi um sono sem sonhos, pesado.
Ao despertar, percebeu os primeiros raios de sol aquecendo seu rosto, inchado de tanto chorar.
Abriu os olhos timidamente e notou o pequeno barco ancorado. Olhou ao seu redor e o que via era algo parecido com um paraíso. Cores, aves, terra firme, flores, cheiros, formas. Uma explosão de beleza, delicadeza e felicidade por toda a parte.
Olhou para o velho que havia velado seu sono e sorriu sem entender como tudo aquilo era possível.
Sem esperar que ela lhe dirigisse uma palavra, com bondade, lhe respondeu:
- Às vezes precisamos atravessar horas, meses, anos de escuridão para chegar ao nosso verdadeiro destino. É preciso ter paciência e confiar no tempo. Nada dura para sempre. Se tem uma coisa que é certa nesta vida é que todos os dias, depois de uma longa noite sem luz, o sol aparece para iluminar e aquecer. Não há o que fazer a não ser esperar.

Sabrina Davanzo

3 comentários:

Anônimo disse...

A travessia é inevitável. Todos temos que fazê-la vez ou outra.
Dói - as mudanças trazem consigo uma bagagem de dor, mas o sol, que nos espera do outro lado, faz valer a pena todo o desespero e desconforto do desconhecido.
Adorei o texto e a cara nova do blog.
BjO* Sabrina!

Renata de Aragão Lopes disse...

Que vontade de despertar...

Lindo texto, Sabrina!

Beijo,
Doce de Lira

XANDY(VARGINHA) disse...

Texto Fantástico!!! Concordo em gênero numero e grau...e por experiência própria...rsrsrs..
Seu Blog ficou show de bola!!! PARABÉNS!!!