Quando chegou à festa vestida toda de preto com uma meia-calça rosa bebê, todos notaram. Ainda bem. Reparando a meia, não notaram seu sorriso cinza e suas olheiras roxo-esverdeadas. "E essa meia de quando você tinha 12 anos?", alguém perguntou. "Está com saudade do seu tempo de bailarina?".
Ela usava a meia para disfarçar o clima fúnebre dentro dela. Constrangida com as brincadeiras, acabou indo discretamente ao banheiro retirar o motivo dos comentários.
Saiu e encarou outra vez os amigos. Agora, parecia pior. Exposta, sua pele branca, pálida, parecia nem ter sangue correndo nas veias. Tremia de frio e de medo. Não queria encarar aqueles tons escuros que teimavam lhe colorir.
Ele se aproximou dela e, com paciência, lhe perguntou: "Por que tirou a única coisa que lhe trazia um pouco de vida? Você precisa ficar alegre. Com as meias, você parecia sorrir. Ainda que com as pernas..." Ela lhe olhou desconfiada.. achou estranho e engraçado. Ele lhe conduziu aos empurrõezinhos e pediu que tratasse de vestí-la de novo.
Foi o que ela fez. Quando saiu, tímida, tinha um imenso "sorriso" cor de chiclete. De alguma forma, aquilo lhe deixou feliz.
Sabrina Davanzo