E chega um dia que a gente tem que crescer. Crescer não só no tamanho mas, principalmente, dentro da gente. Esse crescer traz com ele um outro tempo: o tempo de ser gente grande.
Ser gente grande significa que a maior parte das coisas que você fazia antes, não poderá fazer mais. É uma fase que exige responsabilidade e independência. Provavelmente, você não contará mais com o colo da mãe nas horas que você mais precisar. As dores de amor deixam de ser mais cinematográficas para serem mais reais. As cicatrizes vão ficando cada vez mais profundas. As ligações cada vez mais superficiais.
Ser gente grande significa contar só com você mesmo para conseguir o que quer.
Seus problemas serão maiores que enfrentar um boletim vermelho. Suas afirmações e gestos perdem a inexperiência e passam a ter peso e conseqüência para outras pessoas. Fazer manha já não tem mais o mesmo efeito e certamente o tornará ridículo ou “infantil”.
Ser gente grande é tão difícil que existe um monte de pessoas tentando adiar essa hora esquecendo que o tempo é inexorável, não espera por ninguém. Outras não conseguem administrar a ideia e vestem a carapuça da idade sem deixar espaço para a criança que foi.
Ser adulto nos torna aptos a muitos assuntos proibidos e que ambicionamos quando pequenos. Mas quando se torna uma pessoa grande, a matemática de perdas e ganhos se torna mais clara (e menos aceitável).
Ganha-se autonomia e perde-se uma das melhores fases da vida (que passa a ser boas lembranças). Em alguns casos, perde-se o melhor amigo, a turma da infância que, assim como você, cresceu e foi seguir sua vida. Perde-se o carinho divertido com a família. Ganha lugar um amor de adulto-para- adulto.
Você ganha a liberdade ter pensamentos calculados mas perde a inocência e simplicidade que só quando se é pequeno tem. Abre-se uma conta no banco e com ela abre-se mão dos seus brinquedos, da ciranda.
Eu não queria crescer. Não queria ter que assumir por minha conta o controle da minha vida.
Tenho medo desse tempo que passa levando com ele a elasticidade da minha pele e para cada vez mais distante minha época de criança.
Sei que dentro de mim, ainda não decidi se quero ser menina ou mulher (apesar de não ser uma opção). Minha vontade é de que pudesse haver um meio termo.
Essa vontade também vai passar daqui algum tempo. Isso se chama maturidade. Uma coisa maior que ser gente grande.
É a maturidade quem vai levar embora a dor de não ser mais criança. É ela quem vai, finalmente, me fazer aceitar que não posso mais deixar a vida me levar e que, obrigatoriamente, eu mesma devo conduzi-la.
Sabrina Davanzo
17 comentários:
por mim eu continuo assim: infanta!
ei, Nina!
Por mim também... "infanta" para sempre! tão bom! :)
aiui... lindo! mas impróprio para minhas crises existenciais atuais.
me lembra uma do Quintana
"No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento..."
Que lindo, Clarinha!
tão suave e cheio de significado.
Se leres meus posts, de abril/maio do ano passado verás que tive que crescer e amadurescer na marra. Tudo junto, ao mesmo.
Não é fácil
Não é nada fácil.
Adorei teu canto, menina!
E obrigada pela visita!
Ei, Fernanda!
Vou dar uma conferida lá.. tb gostei mto do seu blog e suas palavras.
Espero que agora vc já tenha se acostumado a ser "gente grande"e esteja tudo bem.
Obrigada pela visita!
Bjim!
Oi Sabrina:
Pois é. Infelizmente, crescer doi. Mas não necessáriamente. Às vezes complicamos uma situação sem necessidade. Temos ganhos e perdas. Um equilibrio entre elas.
Beijos,
Anny
Ei, Anny!
Sim... tb acho que busrcarmos o equilíbrio e tirar o melhor proveito de tudo é um bom caminho para doer menos.
Bjim!
talvez eu tenha fugido de ser gente grande como se deve ser... olho meus amigos, de infância, do tempo da escola, todos esta casados (ou divorciados... hehe já tao cedo), com filhos... um emprego dos sonhos... e eu ainda as mesmas camisas xadrez da minha adolescência grunge... o tempo passando me assusta... tenho medo de ficar parado no tempo... não tenho medo de ficar velho, mas de perceber o tempo passar sem q eu tenha feito as coisas q eu pensei em fazer... tenho medo da morte tbm... um comentário bem confessional pra um estranho... ahhaha
Ei, Júnior! obrigada pela visita!
Acho que eu também tenho fugido de de ser grande.. rs .. aliás, acho que mta gente! E como a vc, o passar do tempo tb me assusta.... passa rápido e tb ainda não vejo realizando o que programei para agora.. tenho medo da solidão.. da morte não.. porque sei que dela não tem mesmo como fugir...
Obrigada pelo comentário e pela "confissão"
Um beijo, volte sempre!
Sabrina, muitos escritores e poetas dizem que existe dentro de nós uma criança. Quem sabe ao termos contato com as coisas simples da vida, a natureza (também li) não riríamos mais e seríamos mais felizes? Acho que eles estão certíssimos. Acho que seríamos sim, mais felizes.
Marlise, tb acho que a simplicidade nos torna mais felizes. E essa criança que existe em nós traz essa simplicidade a tona.. um sorriso, uma brincadeira, passear num lugar lindo.. tudo isso são coisas corriqueiras da infância.. e remetem às pequenas felicidades dessa época.. simplicidade em sua forma mais pura.. felicidade livre de qualquer esteriótipo.
Sabrina, menina linda! Muito bonito o que você escreveu. Sabe... não cresça, não. Seja grande, e isso não quer dizer ser "gente grande". Sim, há as responsabilidades a assumir, contas a pagar, IR, etc... Mas não há nenhuma idade na vida onde é preciso abrir mão da simplicidade, da inocência ou do sonho. Palavra de quem tem 40 e não cresceu até hoje! =) beijos!!!
ana, lindo conselho! rs
quero muito continuar com essa criancinha teimosa e "boba"aqui dentro de mim... Um beijo!!
Já que não tem opção..
Vire mulher..
Mas la no fundinho vc esconda a menina e quando ninguem estiver vendo.. solte-a e a deixe livre!
Bjinhos!
Boa ideia, Lucí!
Acho que assim dá pra ser mais feliz!
Bjim!
É realmente incrivel como de repente nos tornamos adultos. Pelo menos para mim não foi uma coisa gradual. De um ano para o outro "cresci" o que não tinha crescido em 24 anos.
Bjo
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