13 de fev. de 2009

Dor de ser


Vez ou outra agradece por ser quem é. Poderia ser tantas outras: mais feia, mais bonita, mais controlada, mais louca. Mas não. Sempre foi e sempre vai ser ela mesma. Única em suas excentricidades. Segue a novela. Toma analgésico para dores de cabeça imaginárias. Dorme de meias coloridas para esquentar os pés.
ser do seu jeito é mesmo trabalhoso. Não sai da linha.
Leva o lixo sempre às oito e trinta e dois. Acorda sete e quinze. Nenhum atraso. Tudo para não decepcionar o grande criador. Ele tem planos para ela. Deve ter. É o que ela imagina.
Tempos atrás ele lhe impôs uma gastrite.
Dor funda. Que torce. torce para passar logo. Cada um passa o que tem que passar. Desde já fica estabelecido que essa dor nas vísceras ninguém passa por ela.
Já teve um dia que ela quis não passar.
Ficou o dia todo sentada no banco da praça não vivendo. Teve medo de que alguém (uma voz acusadora) viesse reclamar com ela:"Moça! você não está sendo... seu dia está passando e a senhorita não está vivendo!" Ninguém. Deve ser porque passar o dia sentada querendo não ser é uma forma de vida também.
É. É bom ser do seu jeito.
Já se acostumou com seu sorriso amarelo e com seu olhar desviado. Mesmo que quisesse, não saberia ser outra.
Então repete para si mesma:
"A criação é perfeita. A crianção é perfeita. A criação é perfeita..." Enquanto dói o estômago.

Sabrina Davanzo




3 comentários:

NiNah disse...

Mais algumas vezes ela leva o lixo às 0900. rs
Fica sentada no banco da praça pra olhar o tempo.
Caracas...devaneio. rs
Gostei do seu texto.
Bjo

Anônimo disse...

Sabrina, aqui não daria para comentar este post. Não me vem palavras e não daria pra entender. Mas, em muitas coisas me identifico com ela. Em outras não. Espero um dia poder ser melhor. Talvez esteja mais perto do que penso. De qualquer forma agradeço a Deus por ter ajuda e ser quem sou. Abraços.

Izabela disse...

Quem sou eu? Sou o que sinto!