30 de mar. de 2009

O menino com mãos de gancho



Era uma vez um menino que tinha ganchos no lugar das mãos. Prendia todo mundo que se aproximava dele.
O menino fazia isso para não se sentir tão só... para ele, a maneira mais fácil de chegar ao coração era prendendo com as mãos.
A história termina com um menino que nunca deu um abraço apertado e com todos aqueles que ele amava saindo machucados.

Sabrina Davanzo

Astronauta



Ele tinha um avião supersônico no qual viajava todas as noites. Visitava outros planetas, passeava pelas galáxias.
Fez amizade com um marciano que estava de passagem por Júpiter. Explicou a ele como funcionavam as amizades aqui na terra e tratou de avisar: "mais cedo ou mais tarde eu vou lhe magoar mas, como amigo, você deve entender e perdoar".
O marciano concordou. Ele sabia que essa amizade só duraria enquanto o menino tivesse sonhos. E nunca se sabe quando alguém vai deixar de sonhar: pode ser que nunca... mas também pode ser pra já.
E toda noite eles bricavam de astronauta.
De manhã, quando a mãe ia acordar o menino para a escola, via aqueles pezinhos sujos e não entendia.
Pezinhos descalços que brincaram na poeirinha da lua... ela nunca adivinharia. Ela já não sonhava.

Sabrina Davanzo

27 de mar. de 2009

Brincadeira colorida



Filó tinha mania de inventar brincadeiras. Pegava os retalhos das costuras da mãe e criava suas histórias com eles. De todas as brincadeiras que inventava a que ela mais gostava era a de fazer arco-íris. Emendava uma tira colorida na outra e saía correndo igual quando se empina pipa.
Por alguns segundos, as tiras pairavam no ar. Ela tinha um lindo arco-íris palpável só para ela. No final, um pote de biscoitos que a mãe deixava preparado para quando acabasse a brincadeira.
Para Filó, isso é que era riqueza.

Sabrina Davanzo

26 de mar. de 2009

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E porque toda história tem seu fim a dela terminou assim: Fechou os olhos e adormeceu. Para sempre.

Sabrina Davanzo

25 de mar. de 2009

Reflexão

Essa agitação de todo dia é o que as pessoas chamam de vida. Deram-lhe o apelido de rotina. Não, eu não quero quebrar a minha. De vez em quando, talvez. Mas não é isso o que me cutuca as costelas. O que realmente me deixa pensativa é: para quê?
Eu sei que se levanto bem cedinho é para chegar ao trabalho na hora certa. Se trabalho é porque preciso de dinheiro para fazer alguma coisa e por aí vai. Mas onde vou chegar com tudo isso? Não. Também não falo de mansões, carros do ano e roupas de marca. Falo de dentro de mim.
Tudo é experiência. Para quê? O que vem depois que me exige tanto preparo? Uma outra vida? Não sei.
Por isso insisto tanto nesta pergunta: Qual o sentido da vida?
O que tenho eu com outras vidas se não a minha? Por que quando um amigo derrama uma lágrima isso dói em mim? Por favor, não pense que sou insensível ou egoísta. Essa é só mais uma das questões que me corroem, assombram a vida que vivo. E vivo. Sem saber, sem conhecer.
Na tentativa de obter respostas, converso com o vento, com as paredes. Conto o que estou sentindo, agradeço as coisas boas que recebo, me desculpo pelos erros, ofereço barganhas, faço promessas.
Oi, tem alguém aí?

Sabrina Davanzo

24 de mar. de 2009

Simpatia

Acontece quando você identifica dentro do outro um pedacinho de você e vice-versa.

Sabrina Davanzo

20 de mar. de 2009

Pedido


Ela mal nasceu e ganhou asas, capa de super herói. Queria voar para longe.
Pedi que ficasse. É sempre bom ter anjos por perto.
Contei sobre como é bom descobrir coisas novas todos os dias.
Falei sobre as bolinhas de sabão multicoloridas e do seu barulhinho quando estouram.
Ufa! Acho que a convenci. Ela decidiu ficar.
Ainda bem. Era muito cedo para sair de perto de mim.

Para Letícia

Sabrina Davanzo

Estátua de Pracinha

Acho que, sem perceber, virei estátua. Já faz um tempinho que não saio do lugar, meu olhar não muda de direção, minhas mãos não agem.
Estátua de pracinha, rodeada de gente feliz, no corre-corre das coisas que acontecem, que se realizam.
Com quem posso reclamar? Será que a culpa é da prefeitura?

Sabrina Davanzo

Sem inspiração

Hoje eu queria escrever um texto bem lindo.
Sobre o que ele falaria? Não sei.
É que minhas ideias foram passear em parque que tem um laguinho
com flores em volta. É isso: foram se refrescar.
De vez em quando é bom ter a cabeça vazia...

Sabrina Davanzo

16 de mar. de 2009

Falta de açúcar


Formiguinha passou por mim apressada e meio zonza - glicose baixa. Estava indo ao mercado comprar um doce.
Disse que na casa onde está hospedada ninguém mais come açúcar. Só coisa light. Está todo mundo de dieta.
saiu reclamando: "Maldita ditadura da beleza! Intromete até na vida de uma pobre formiga!"

Sabrina Davanzo

De molho

Colocou de molho algumas peças de roupas que estavam encardidas.
Reparando na sujeira que saía aos poucos da roupa e se misturava à água, pensou que queria ser assim também. Queria poder se pôr de molho para tirar as marcas mais profundas que ficam impregnadas em si mesma.
O tempo de um mergulho é pouco. Precisava de mais. Talvez uma tarde, um dia todo submersa como as peças de roupa.
Sairia tudo e voltaria purificada? Ou seria o caso de, não sabendo lidar com a situação, ficaria com manchas (marcas) para sempre?
Roupa manchada a gente só usa dentro de casa. Não serve para se expor.
Ela tinha medo de, ao tentar se purificar, deixar ainda mais à mostra suas marcas.

Sabrina Davanzo

11 de mar. de 2009

Fim de festa



Uma boa festa chega ao fim quando ela é invadida por um arco-íris de bala de coco que vem enrolada no papel com franjinha.
As balas têm gosto de sabão e o papel colore o chão.
Quando vem chegando o arco-íris eu já sei que é hora de ir embora.

Sabrina Davanzo

6 de mar. de 2009

Cadê?


Tem horas que eu me perco.
Me perco dentro de mim.
To aqui e de repente... cadê?
Me abandono.
Queria saber por onde ando nesses momentos.

Sabrina Davanzo


Valsinha

Na vitrola antiga (presente do avô) ouvia um vinil que tocava sempre a mesma música: Uma valsinha bonita.
Sentada próxima à janela, sentia a brisa fresca que lhe chegava até o rosto. Um carinho do vento. Fitava as árvores e as outras casas que tinham suas tonalidades douradas pelo sol.
Isso é que é paz. Pensou.
Paz é valsinha bonita tocando por dentro e brilho de sol irradiando por fora.

Sabrina Davanzo

4 de mar. de 2009

Viagem de balão - parte 1



Daqui a alguns dias vou voar de balão. 
Já comprei minha passagem e reservei alguns suspiros. 
Quem vai dirigi-lo é um casal de  girafas que fica todo encurvadinho para caber lá dentro. 
Estou ansiosa. Vai ser minha primeira vez.  
"É bom levar agasalho e algodão doce" me aconselhou o vendedor de bilhetes. 
Ah! esqueci de contar. Ele é um hipopótamo bem velhinho. 
Está há muitos anos nesta função: vendedor de passagens de balão. 
Se quiser vir comigo ainda dá tempo. Agorinha ele disse que tem muitas vagas. 
Quase ninguém mais quer voar de balão. As pessoas andam muito sem tempo. 

Sabrina Davanzo 




3 de mar. de 2009

sobre as pessoas

Tem gente que é assim que nem peninha branca voando 
num dia de sol quentinho e céu com nuvem de algodão. 
Tão bonito de se ver.É suave, delicado. 
É. Tem gente que traz essa paz de peninha bricando com o vento. 

Sabrina Davanzo 

Uma amiga



E sua melhor amiga é uma estrelinha que vive em seu quarto. 
Caiu do céu bem ali. 
Seu sorriso é luzinha prateada na imensidão da noite. 
De manhã a estrelinha é só uma almofada macia de braços abertos para lhe receber. 
Esperta essa amiga! Ela bem sabe que com céu azul anil estrela tem de ficar escondidinha. 
Então, ela se faz de almofada macia. 

Sabrina Davanzo