11 de nov. de 2008

O Cata-Vento


Em um pequeno vilarejo, no alto de uma torre, vivia um cata-vento. Imponente, colorido, cheio de energia e solitário. Ficava lá no alto sem uma viva alma para apreciá-lo. O vento, seu únicos companheiro, passava manso, fazia-lhe cócegas e lhe contava que em outros lugares havia cata-ventos enormes que as pessoas apontavam, visitavam e ficavam felizes em vê-los girar a todo vapor. O cata-vento do pequeno vilarejo olhava o corre-corre, a vida lá em baixo e se perguntava por que ninguém era capaz de lhe dirigir nem mesmo um olhar. Com o passar dos anos, já não tinha mais vontade de brincar com a brisa nem lutar contra o vento forte. Olhava ao seu redor e não via mais que velhos telhados encardidos. Percebia que o sol, de quem se considerava próximo, desbotava suas cores e o deixava mais abatido. Vivia pensando no quanto era desnecessária sua existência. Foi então que um dia uma leve corrente de ar que passava por ali tocou suas hélices e lhe contou que os céus reservavam para aqueles lados uma imensa tempestade. Furacões e ventos que assoviavam alto arrasariam com todas as coisas, árvores, crianças e alegria daquele lugar. O pequeno cata-vento viu nessa confidência sua chance de conquistar o carinho das pessoas. Sentiu que poderia ser útil e quem sabe até importante. Afinal, salvaria a pequena cidade. Durante três dias o cata-vento girou com todas as suas forças, sem parar um segundo, para anunciar a chegada do inevitável. Mesmo sem vento algum, se agitava. As pessoas que olhavam para o alto da torre achavam que ele havia ficado louco. Não entendiam como e por que ele girava sem parar nos últimos dias, mesmo quando o ar estava mais parado que uma carroça sem bois. Exausto, o cata-vento acabou desistindo. Deixou-se abater e ficou a espera do pior. Nenhum morador, visitante, criança ou idoso esperava pelo vendaval que chegou em uma madrugada. Zunindo a melodia da morte, arrancou tudo o que viu pela frente. Não sobrou nada. Nem a pressa dos que passavam todos os dias pelo cata-vento e não o notavam foi perdoada. Ele também foi levado. Com as rajadas, desprendeu-se do alto da torre e foi arrastado pelo céu afora. Teve medo, mas pela primeira vez na vida sentia-se em paz. Não queria mais consideração, nem carinho. Desejava apenas se perder em sua insignificância. Acabou caindo em uma outra cidade. Por lá, todos já sabiam do furacão. Olhavam-no maravilhados por pensar que ele havia sido trazido pelo vento. Era um sobrevivente. Talvez o único. O povo dali, que não era dado a acreditar em coincidências, entendeu aquilo como um presente divino e tratou de colocá-lo no alto da torre da capela. Ninguém fazia idéia da sua bravura nos dias que antecederam a tragédia. Ninguém poderia imaginar o cata-vento esgotando todas as suas energias para prevenir uma vila ingrata. Em sua nova casa, tornou-se uma relíquia, símbolo dos que resistem bravamente às adversidades. Todos o apontavam, admiravam, elogiavam. Finalmente, ele conseguiu o queria. Sentia-se feliz. Guardava para si o velho ensinamento: cada qual, ao seu momento, tem sua importância na vida do outro.

Sabrina Davanzo


Um comentário:

Anônimo disse...

Prima,
Lindo Blog
Linda história
o pequeno cata-ventos descobre a grandeza que pode alcançar...

Beijos