2 de nov. de 2008

Esse seu voar



Em plena quarta-feira à tarde, dei de cara com ele caminhando pelo meu corredor. Fiquei observando de longe quase sem respirar, pois tinha medo de assustá-lo com minha presença. Reparei nos seus passinhos ligeiros, cabecinha movendo de um lado para o outro, atento a qualquer movimento ao seu redor. Não me notou. Seguiu em frente.
A uma certa altura, levantou vôo baixinho (a conta de economizar alguns passos) e pousou na cabeceira de minha cama. Corri de leve pelo corredor, evitando fazer barulho e me escondi entre a porta. Pela fresta, pude ver que ele ficou imóvel, só a cabeça movia como se estivesse esperando por alguma coisa que estava prestes a chegar, talvez até atrasada. Eu, de onde estava, reuni toda minha coragem e me coloquei a sua frente, no meio do quarto. Ele me encarou num misto de espanto e admiração. Olhou profundamente em meus olhos, levantou vôo e saiu pela janela. Tive certeza de que ele estava ali a me esperar. Eu que tinha tanto para descobrir… Queria saber sobre a altura do vôo… Será que cada um tem sua forma de voar? Será que voar é um merecimento? E se for, quanto tempo se deve esperar? Não tive tempo. Aquele minúsculo passarinho esteve ali, em frações de segundos, só para me olhar.

Sabrina Davanzo


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