10 de nov. de 2008

Novo Céu


Para Larissa, Sabrina, Thaís, Marcel, Marcelo, Thiago, Robson, Lucas, Jonathan, Neuza, Tancredo, Leandro e todos os outros:

Olhar que não retrata o que vê. Olhos que não expressam brilho, medo, dúvida. Apenas se perdem infinitamente atravessando a própria imagem diante deles.
Mãos finas e frágeis. Um simples toque parece ser capaz de rasga-las, arrancar-lhes a pele.
Mãos que não exprimem força nem direção. Buscam o vazio, se agarram ao que está por perto sem nenhuma consciência.
Força sem medida, desajeitada. Força que assusta em meio a tanta desconexão.
Curiosidade inocente, bestial. Pureza.
Sorrisos, risadas, gargalhadas dispersas em salas sem graça alguma.
Pés que nunca caminharam, nunca tocaram o chão, não experimentaram a liberdade de ir e vir.
Faces cizudas, rostos disformes. Feiúra que esconde a beleza presente na infância.
Não há traços de pai e mãe. Somente marcas de quem carrega dentro de si toda uma existência emudecida. Uma vida velada por gritos guturais, choro, letargia.
Não há ânsia, vontade, desejo. Não existem sonhos, nem esperança.
Existe a dura realidade de uma pequena falha em uma máquina tão divinamente perfeita: o corpo.
Não procuram motivos. Não questionam o destino. Não exigem uma reposta.
Vivem todos juntos sem jamais conhecerem uns aos outros.
Tudo é tão limpo e cheira vida estagnada, guardada no fundo de um guarda-roupa sem nunca ter sido usada.
Lágrimas, sono dentro de um bercinho vez ou outra decorado com brinquedos que naquele contexto parecem tristes e tão sem gestos quanto o próprio companheiro.
Placas identificam alguns que não possuem identidade. Impossível reconhecer seus defeitos e qualidades.
Tudo parece triste e vazio mas ao mesmo tempo inspira uma enorme felicidade de ser o que se é.
Lição de vida e resignação. Espelho para nossas próprias falhas, para nossas reclamações sem sentido, para nossa preguiça sem motivo.
Para todos eles, um Novo Céu habitado por anjos vestidos de branco que lutam diariamente para manter viva a faísca do existir que palidamente anima cada um que está ali.


Sabrina Davanzo


4 comentários:

Unknown disse...

Olhos e mãos que se pudessem, agarrariam a vida e viveriam tudo intensamente! É uma lição de vida de quem apenas sobrevive... Seu texto é lindo Sabrina!!!

Unknown disse...

Eu adoro seus textos Sabrina!!!
Sou sua fã, mas eu apaixonei nas ilustrações também!!!!!!!!!!
São tão delicadas... tanto quanto os contos...
Que dupla!!!
Graziela

Joy Cerimonial disse...

É quando a vida parece mais pálida para mim, que abro seu blog e percebo quanta beleza ainda existe guardada para mim e quantos agradecimentos devo fazer por, além de tudo, poder contar sempre com suas palavras...

Anônimo disse...

Sabrina,
você é a típica garota simples, que de tão simples não é mais tão típica, nem acontece sempre, acontece pouco, com poucas pessoas, pessoas como você, raras na simplicidade. Sua simplicidade é tão rara, quanto seu texto, em beleza. Beleza própria, ímpar, plural e específica, genial e cotidiana. Parabéns pelo blog lindo!
bjim, Edinho