10 de dez. de 2010

Bem-aventurados os que...

Maria é dessas tantas que nascem em um dia comum e recebem um complemento para o nome de acordo com as crenças e gosto dos pais. O complemento do nome dela não sei não, porque para Maria e para qualquer outro, tanto faz.
Se tivesse o que contar sobre ela eu contaria, mas sei tão pouco de Maria. Conheço apenas sua preferência pelo dia, sorvete de baunilha e lençóis brancos.
Maria é dessas que não se mostram, ouve batidas à porta e não vai abrir porque não espera ninguém. Não quer saber de conspiração do universo, coincidências do destino (se é que sabe lá o que isso significa).
Quando Maria ainda era Mariazinha a mãe viajou para vender doces nas redondezas e nunca mais voltou para lhe trocar as fraldas. Enquanto Maria crescia, ia esquecendo a feição da mãe. Hoje, a lembrança é só um borrão.
Maria é um pouco de tudo o que aprendeu e aprendeu direitinho todas as coisas porque muito cedo o suor já lhe deitava na cara. A vida nunca foi amiga de Maria. Brinquedo não teve, mesa farta não tem, beleza não tem, amigos não tem, amor não tem. A única coisa que sobra em Maria é ruga, mas ela mesma não acha que a vida é só amargura. Num domingo, durante a missa, experimentou a alegria quando o padre explicou sobre os bem-aventurados. Com todo seu histórico, Maria passou a acreditar que um dia o céu se abrirá bem diante dos seus olhos e ela será recebida como uma rainha. Maria tem essa esperançazinha que não a deixa por nada, e isso já basta para lhe fazer meio feliz.


Sabrina Davanzo

2 comentários:

Eliete disse...

Sabrina , como você escreve bem!
Esta Maria é linda , suas rugas só mostram o valor do seu ser. Amei-a.beijinhos

Eliete disse...

Sabrina , ganhei o meu primeiro selinho e feliz da vida repasso-o para o seu blog. Por favor passe no meu cantinho e retira-o.bjs, Eliete