13 de out. de 2011

Deve ser por isso..


- Então ela me perguntou: Por quê? Por quê? POR QUÊ?
- E eu lhe respondi: Sinceramente? Não sei! Mas, aconteça o que acontecer, não olhe para trás. Não dê ouvidos e, principalmente, não deixe ele perceber que ainda a faz tremer.

-E o que ela achou disso?
- Deu de ombros. E me perguntou de que adianta ele não saber se ELA sabe. Ela queria não saber de nada disso também.
- Você tem ideia de por que essas coisas acontecem?
- Acho que é porque o tempo é meio como você.... Devagar. Demora muito para fazer as pessoas se afastarem umas das outras.
- Mas eu não pertubo...
- O que não quer dizer que não está lá, traçando o seu caminho e, invarialvemente, cruzando o de alguém que não o quer por perto.

Sabrina Davanzo


7 de out. de 2011

Notícias de mim



Estou sumida porque ultimamente tenho me encontrado apenas nos livros de autores desconhecidos e conversas triviais.
Minha vida anda como aqueles copos cheios de afeto que alguém serve a uma pessoa num momento desespero: água com açúcar. É doce, mas ao mesmo tempo, sem graça.
Vai tudo bem com a minha família, com o meu trabalho, com o edredom macio que durmo todas as noites e com o café da manhã que eu tomo todos os dias. Minha saúde nunca esteve melhor. E, veja só! Essa calmaria quase me mata! Porque eu aprendi que paz é estar diante de um mar sereno, brisa leve, pés descalços na areia. Talvez paz até possa ser uma casinha simples, com varanda, no meio do mato e um riacho ao fundo ou quem sabe descansar em uma banheira de espuma ouvindo jazz. Essa paz aqui é estranha, não estou acostumada a essa coisa que se parece com um breve espaço entre uma decepção e outra. Uma euforia e outra. Uma conquista e outra.
Eu estou feliz de um modo que não sairia nas manchetes dos grandes jornais. É sem alarde. Quase imperceptivelmente feliz.
Nesse momento, você está pensando que eu reclamo de barriga cheia. Há as pessoas que não têm família, nem emprego, muito menos o café da manhã. Há aquelas pessoas na África que caminham quilômetros, debaixo de um sol escaldante, à procura de um mísero copo de água imunda (engraçado como que, pelo menos nas reportagens da TV, nunca as vemos reclamar dessa situação. Elas apenas se conformam) quando eu estou paz. Eu deveria estar radiante - você exclama. Talvez eu não esteja porque nunca acreditei que a paz viria assim, de graça (há aquelas histórias emocionantes sobre lutar por ela, lembra-se?). Estou surpresa.
Não quero que você pense que estou triste, apesar dessas palavras soarem como uma lamentação. Eu estou bem, só essa conformidade com o "está tudo certo - as coisas vão acontecer no tempo delas" que me deixa desconfiada.
Mas, se isso te tranquiliza, estou aproveitando o coração vazio e a cabeça aliviada para respirar amenidades. Tenho falado da vida dos artistas, pesquisado os próximos lançamentos do cinema, feito aulas de espanhol e comido mais salada. Descobri que adoro alface e já não tenho mais gastura ao ver a beterraba colorir o arroz. Tudo isso só aconteceu porque eu não tenho me ocupado de mais nada, pois nada me aflige.
E agora, me faça um favor. Para o caso de eu jamais viver outro momento de lucidez e plenitude como esse, espalhe pela casa bilhetes dizendo: "Sim. a paz existe e você a conheceu".

Sabrina Davanzo