Aos pouco, ela vai aceitando a idéia de ser o que se tornou.
Levou anos, mas até hoje quando se olha parece que toda essa transformação se deu em alguns minutos. Tudo soa tão novo e assustador.
Para tentar se acostumar, ela gosta de andar olhando para cima. Assim é possível enxergar os galhos das árvores. Gosta de reparar como o vento toca as folhas e leva um pouco de suas impressões embora.
Para onde vai o vento? O que faz ele com todos os cheiros, sabores e cores que toca? Divide ele com alguém essas experiências?
No fundo, ela se sente um pouco vento. Tem acesso aos mais variados sentimentos, fatos e pessoas, mas não retém nada para si. Não sabe como conservar suas emoções.
Deveria guardá-las em uma caixa de madeira com um cadeado dourado? Não. Correria o risco de perder as chaves e deixar tudo ali dentro para sempre. É difícil saber o que fazer quando se está diante da vida. Ainda mais quando não se é permitido experimentar. Pensou nessa possibilidade, pronto: Já se viveu.
Por isso, o vento se parece tão perdido. Está em toda parte, sem de fato estar em um só lugar. Faz redemoinhos, exalta-se. Sábios são aqueles que conseguem guardar dentro de si o valor de todas as sensações. Aqueles que fecham os olhos e conseguem descrever o significado de pisar descalço na terra, o cheiro de se deitar no capim.
Ela só sabe falar de chão vermelho e velhos colchões. Mas ela não desiste. Não perde a doçura de assim como o vento, tocar tudo que está ao seu alcance.
Sabrina Davanzo
Levou anos, mas até hoje quando se olha parece que toda essa transformação se deu em alguns minutos. Tudo soa tão novo e assustador.
Para tentar se acostumar, ela gosta de andar olhando para cima. Assim é possível enxergar os galhos das árvores. Gosta de reparar como o vento toca as folhas e leva um pouco de suas impressões embora.
Para onde vai o vento? O que faz ele com todos os cheiros, sabores e cores que toca? Divide ele com alguém essas experiências?
No fundo, ela se sente um pouco vento. Tem acesso aos mais variados sentimentos, fatos e pessoas, mas não retém nada para si. Não sabe como conservar suas emoções.
Deveria guardá-las em uma caixa de madeira com um cadeado dourado? Não. Correria o risco de perder as chaves e deixar tudo ali dentro para sempre. É difícil saber o que fazer quando se está diante da vida. Ainda mais quando não se é permitido experimentar. Pensou nessa possibilidade, pronto: Já se viveu.
Por isso, o vento se parece tão perdido. Está em toda parte, sem de fato estar em um só lugar. Faz redemoinhos, exalta-se. Sábios são aqueles que conseguem guardar dentro de si o valor de todas as sensações. Aqueles que fecham os olhos e conseguem descrever o significado de pisar descalço na terra, o cheiro de se deitar no capim.
Ela só sabe falar de chão vermelho e velhos colchões. Mas ela não desiste. Não perde a doçura de assim como o vento, tocar tudo que está ao seu alcance.
Sabrina Davanzo
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