Ele é desses sujeitinhos que sempre andam com os nervos expostos à flor da pele. Flor essa que é feita de espinhos e folhas murchas.
Briga com o trocador do ônibus. Reclama com a atendente da padaria. Discute com o vizinho de frente. Não dá um centavo para o pedinte. Sua casa, assim como sua alma, é vazia e tem a escuridão de sete palmos abaixo do chão.
O dono da banca da esquina o conhece bem e conta que a última vez que ele sorriu foi há muito tempo, ao despedir-se de sua senhora à porta de casa, quando essa saía para o trabalho. A mulher nunca mais voltou. Nem o sorriso dele.
Quem o vê julga-o mesquinho, resmunguento, mal humorado. O que ele tem mesmo é um imenso amor reprimido. Um desespero entalado na garganta. um deserto no lugar do coração.
Ele não sabe lidar com o amor que já se fez presente e hoje não mais está.
Sabrina Davanzo